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Comunidade indígena peruana presenteará papa Francisco com arco e flecha

Pontífice chegará na sexta-feira a Puerto Maldonado, onde se reunirá com 3,5 mil índios peruanos, brasileiros e bolivianos

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Por Redação
Atualização:

PUERTO MALDONADO, PERU - O papa Francisco receberá na sexta-feita um arco e flecha como presente simbólico de uma comunidade indígena do Peru para que os defenda e interceda por eles com relação às terras ancestrais que lhes foram tomadas.

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O papa chegou na sexta-feira a Puerto Maldonado, no sudeste do país, onde se reunirá com 3,5 mil índios peruanos, brasileiros e bolivianos Foto: AFP PHOTO / Guillermo MUNOZ

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"Somos um povo despojado de suas terras originárias", disse César Jojaje Eriney, de 43 anos, chefe da tribo Ese Ejja Palma Real. Ele vê a chegada do papa "com um olhar de esperança, para que o Estado peruano devolva nossas terras" por meio dele. "É a única janela, a única oportunidade."

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Na comunidade de 230 habitantes, acessível apenas depois de duas horas de barco pela Amazônia, a partir da cidade de Puerto Maldonado, as crianças correm descalças em meio às galinhas. Entre as poucas amostras de modernidades, alguns celulares, camisas de futebol e várias motocicletas.

O pontífice chegará na sexta-feira a Puerto Maldonado, no sudeste do país, onde se reunirá com 3,5 mil índios peruanos, brasileiros e bolivianos. Entre os Ese Ejja há muito movimento: 187 habitantes se registraram para participar da visita nesta cidade à qual geralmente só vão uma vez por ano.

A Igreja se encarregou de organizar o transporte destas comunidades. Oito barcos foram contratados para Palma Real e os nativos, que chegaram com famílias inteiras, se acomodaram ali, carregados com equipamentos, alimentos e água durante os três dias que durará sua estadia.

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Mas quem é o papa para eles? "Sabem que é o grande bispo de todos", afirmou Martín Ramírez, enviado pelo Caritas para supervisionar o traslado da comunidade. No entanto, confessa que foi necessário enviar previamente "um comitê para explicar quem é o papa e o motivo deste encontro".

"Nós dissemos a eles 'papachi', papa bom, é um velhinho bom", disse César. Outros nativos da zona o chamam de "apaktone", o papa velho.

Na sexta-feira, ele quer transmitir duas mensagens ao pontífice: "Obrigado por salvar a nossa vida", porque a Igreja Católica protegeu a comunidade na década de 1940 frente ao auge da borracha, pelo qual muitos indígenas foram assassinados. "Éramos de 25 mil a 30 mil, e agora não chegamos nem a 600" contando as outras tribos Ese Ejja da região.

Mas "que salve a nossa vida outra vez, porque não podemos desaparecer!", alerta César, denunciando a apropriação por parte do Estado de uma parte de suas terras.

Riquezas

Embora os Ese Ejja vivam de forma simples, subsistindo graças ao cultivo de castanhas, seus territórios abrigam riquezas que atraem a atenção das multinacionais - ouro, gás e petróleo.

A varredura de ouro já é um flagelo na região, criando enormes crateras de terra na floresta e derramando mercúrio na água, elemento utilizado para extrair o metal. "Ontem nos mataram a tiros, hoje querem nos exterminar nos matando de fome", lamentou César, que acusa o governo de outorgar concessões a grandes grupos.

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Além dos artesanatos feitos por mulheres Ese Ejja, a comunidade oferecerá ao papa argentino, o primeiro da história originário da América Latina, "um arco e flecha para que possa nos defender".

Não muito longe dali, Jacinto Savera Chatawa, de 70 anos e pai de 12 filhos, não se comove com a visita, recordando que a evangelização foi utilizada principalmente para impor a seu povo regras diferentes das suas.

"Nos civilizaram, e o nativo que tinha direito a três ou quatro mulheres, o sacerdote proibiu", afirmou. "Nosso deus é Edosikiana" e não o dos católicos, acrescentou ele, que não verá o papa em Puerto Maldonado. "Se vier um deus do céu, com asas de dois metros, talvez (...). Mas é apenas um humano." / AFP

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