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Conferência contra racismo é divisor de águas

Por Agencia Estado
Atualização:

Os líderes do movimento negro brasileiro que participaram da Conferência Mundial contra o Racismo saem de Durban com uma lição de casa. Independentemente da aprovação das propostas que apoiaram na reunião promovida pela ONU (Organização das nações Unidas), eles estão decididos a lutar pela adoção de políticas que promovam sua comunidade e reparem, enquanto possível, as injustiças sofridas no passado. "Essa confência será um divisor na história do Brasil", afirma o professor Hélio Santos, das universidades Santana e São Marcos, um dos 49 delegados oficiais da representação enviada pelo governo à África do Sul. Ele acha que será mais fácil defender políticas públicas capazes de garantir lugar para os negros em todos os segmentos da sociedade, especialmente na escola e no mercado de trabalho. Reparação, a palavra-chave que levou o debate a um impasse no encerramento da conferência, é uma das metas do movimento negro, mas no contexto da realidade brasileira. "Seria complicado e até inviável falar em reparação em dinheiro, mas temos de exigir compensação pelo que sofremos como descendentes de escravos", disse Santos. A adocão de cotas para os candidatos negros nos vestibulares e nas empresas seria uma forma de reparação. Santos, que é professor de Finanças e Administração em pós-graduação, propõe um sistema flexível, de modo que não haja normas rígidas e antipáticas. "Como estabelecer 10%, por exemplo, para vestibulares na Bahia, onde a maioria da população é negra, e a mesma coisa em Santa Catarina, que não teria como preencher essa cota?" Além de reivindicar cotas de participação também no mercado de trabralho, o movimento negro pretende conquistar espaço como consumidor. "Temos de boicotar as empresas que não levam o negro em conta na hora de anunciar seus produtos", diz Hélio Santos. Ele não entende como um fabricante de cosméticos, por exemplo, não se dirige à mulher negra e como a publicidade não utiliza modelos negros na propaganda. O procurador federal Wilson Roberto Prudente, do Ministério Público do Trabalho, em Vitória (ES), promete uma fiscalização mais rigorosa para verificar se as empresas estão garantindo emprego para os negros na proporção devida. "Vou basear-me nas resoluções aprovadas pela ONU em Durban para fazer esse trabalho com bons argumentos", anuncia o procurador. "A reparação em dinheiro não deve ser descartada, embora seja complicado", aconselha o professor Eduardo de Oliveira, presidente do "Congresso Nacional Afrobrasileiro e autor de ´Quem é quem na negritude´, livro com 578 biografias de negros de destaque, de Zumbi dos Palmares ao geógrafo Milton dos Santos. "Defendo tratamento desigual para pessoas e instituições desiguais, contanto que isso leve à igualdade", afirma Oliveira. Os negros constituíram maioria na delegação de 185 pessoas credenciadas pelo Brasil - dos quais 49 incluídas na missão oficial. "Como delegados ou assessores, os negros e os representantes de outros setores contribuíram muito para a discussão", disse o embaixador Gilberto Saboia, chefe da Delegação do Brasil e coordenador do grupo de trabalho que tratou da questão da reparação.

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