Conferência de Durban termina com texto moderado

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao fim de nove dias de acalorados debates e repetidas ameaças de fracasso da reunião, a Conferência Mundial contra o Racismo terminou hoje, realizada em Durban, na África do Sul, com a aprovação de uma declaração que reconhece o "drama dos palestinos" e admite que a escravidão e o tráfico de escravos, considerados crime contra a humanidade, foram uma tragédia na história. O texto sugere pedidos de desculpas pelas suas conseqüências, tanto para africanos como para povos indígenas, e apóia a criação de fundos e de programas de ajuda aos países que foram vítimas do colonialismo e da escravidão. Participaram da reunião 173 países, mas só 99 delegações estavam no encerramento, que chegou ao fim com mais de 24 horas de atraso. O encerramento da conferência, adiado de sexta-feira à tarde para as 13 horas de hoje (11 horas de Brasília), não acabou dentro do novo prazo, porque a questão do Oriente Médio criou mais um impasse na sessão final. Os estados árabes, apesar de aceitarem as negociações sobre o Oriente Médio, registraram sua preocupação pelo fato de a conferência não ter condenado diretamente Israel por sua política com os palestinos. O impasse surpreendeu, porque de madrugada a presidente da conferência, Dlamini Zuma, ministra do Exterior da África do Sul, havia preparado propostas alternativas para os dois pontos mais complicados - a questão do passado (colonialismo e escravidão) e o problema dos palestinos. Os textos, aprovados numa reunião preliminar pela manhã, deveriam ser submetidos a plenário. A confusão começou 25 minutos antes da hora prevista para o encerramento solene. "Vamos perder mais uma hora, mas encerrar a conferência de maneira digna", disse Dlamini. A Síria tumultuou o debate, depois que a delegação do Catar levantou o problema dos três parágrafos, em nome da Conferência dos Países Islâmicos. O ministro sírio das Relações Exteriores, Farouk al-Sharaa, condenou um parágrafo que reconhecia o Holocausto dos judeus promovido pela Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial. Ele atribuiu a responsabilidade pelo genocídio aos europeus, que "agora querem distribuir sua culpa pelo mundo". Vários países muçulmanos fizeram objeções aos esforços de eliminar no texto que muitos delegados consideraram como referência indireta aos palestinos, incluindo um parágrafo que afirma que "a ocupação estrangeira é uma das formas e fontes da discriminação racial". Porém, os demais participantes da conferência não concordaram com isso e aprovaram o texto previamente discutido. O texto de Dlamini Zuma é uma proposta moderada que, depois de afirmar que o Holocausto jamais poderá ser esquecido, manifesta a preocupação com o sofrimento do povo palestino e reconhece o direito à livre determinação dos palestinos. O texto diz que "todos os Estados da região, incluindo Israel" têm direito à segurança. Embora tratem de ocupação de territórios por tropas estrangeiras, em geral, os parágrafos defendidos pelos países islâmicos referem-se especificamente a Israel, citando o caso de Jerusalém. Na prática, o texto era uma tentativa de retomada, na última hora, dos temas que provocaram a retirada das delegações dos Estados Unidos e de Israel da conferência de Durban, na última segunda-feira. A outra proposta da presidência, referente ao passado, ou seja a reparação dos males causados pelo colonialismo e pela escravidão, traduz o acordo obtido entre o Bloco Africano e os países da União Européia. Em termos moderados, o texto acabou incorporando as principais reivindicações dos africanos e afrodescendentes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.