Em escalada da violência, Israel mata líderes do Hamas e sinaliza invasão de Gaza

Autoridades de saúde palestinas confirmam 65 mortes em Gaza, sendo 16 crianças; em Israel, ao menos sete pessoas morreram, sendo um menino de 6 anos

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Por Redação
Atualização:

JERUSALÉM — A escalada de violência entre israelenses e palestinos se intensificou nesta quarta-feira, 12. Pelo menos mais 130 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção a Israel, que respondeu com bombardeios no território de maioria árabe e operações contra a liderança militar do Hamas.  Ao menos três brigadas do Exército israelense se preparam para "o pior cenário", segundo uma fonte militar - uma indicação de que pode haver uma invasão por terra.

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Ao menos 65 palestinos morreram em Gaza, incluindo 16 crianças. Serviços de saúde de Israel confirmam sete mortos, incluindo uma adolescente e um menino de 6 anos. Dentre as vítimas palestinas, o Exército de Israel afirmou ter matado  16 comandantes da cúpula das Brigadas de Al-Qassam, uma das facções armadas do Hamas.

O Hamas prometeu reagir à morte de seus líderes militares, com ataques a novos alvos militares israelenses. Pela manhã, cerca de 15 foguetes foram disparados contra a cidade de Dimona, que abriga um reator nuclear israelense. Um novo ataque com mais foguetes ocorreu por volta do meio-dia (horário de Brasília).

Ameaças

Outro reflexo do agravamento da crise foi a ampliação dos distúrbios dentro de Israel. Grupos de judeus e árabes voltaram a se enfrentar hoje na cidade de Lod – 1 pessoa morreu, 11 ficaram feridas e 20 foram presas nos últimos três dias. Extremistas judeus marcharam pelas ruas de Bat Yam, subúrbio de Tel-Aviv, cantando slogans racistas e depredando lojas de comerciantes árabes. Imagens mostraram uma tentativa de linchamento de um palestino. 

Em Acre, no sul de Israel, a mesma cena, mas com sinais invertidos: um grupo de árabes espancou um judeu, que foi internado em estado grave. No norte da Cisjordânia, um homem feriu a tiros duas pessoas. A polícia confirmou o ataque e disse ter “neutralizado” o atirador – sem dar mais detalhes. Em Tiberíades, no norte do país, jovens judeus ultranacionalistas marcharam pelas ruas da cidade atacando árabes e destruindo carros. 

As cenas de violência dentro de Israel chocaram a classe política. Naftali Bennett, líder do partido Yamina, que negocia uma coalizão para substituir o premiê, Binyamin Netanyahu, pediu calma. “As cenas em Bat Yam são horríveis. Este não é o caminho. Ferir inocentes não é judeu, é imoral e desumano”, disse. “Parem agora, não façam justiça com as próprias mãos.” 

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Yair Lapid, outro candidato a substituir Netanyahu, foi ainda mais duro. “Os arruaceiros em Lod e Acre não representam todos os árabes israelenses, assim como os vândalos de Bat Yam e os grupos judeus de extrema direita são um bando de racistas patéticos que não representam os judeus de Israel.”

Cidade de Gaza é tomada por fumaça cinza após ataque aéreo de Israel na manhã desta quarta-feira, 12. Foto: MAHMUD HAMS / AFP

Falando ao Canal 12, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, pediu o fim da “loucura” nas ruas. “Estamos lidando com uma guerra civil entre nós sem motivo. Por favor, parem com essa loucura.” Até Bezalel Smotrich, líder do Partido Sionista Religioso, de extrema direita, se disse “chocado”. “Acabei de ver um vídeo de judeus atacando um árabe inocente e estou chocado e com vergonha do fundo da minha alma.” Na terça-feira à noite, pouco antes das 21h, o Hamas, grupo militante islâmico que governa a Faixa de Gaza, anunciou que lançaria foguetes em Tel-Aviv em resposta aos intensos ataques aéreos israelenses que derrubaram um prédio de 13 andares, bem como outros ataques em arranha-céus que resultaram em pelo menos três vítimas.

Os militares israelenses disseram que o prédio de 13 andares abrigava escritórios de inteligência militar do Hamas e uma unidade de pesquisa e desenvolvimento de foguetes.

O Exército de Israel disse que os ataques desta quarta-feira mataram Bassem Issa e vários outros líderes do Hamas, incluindo os chefes de desenvolvimento e produção de foguetes e engenharia. A morte de Issa foi confirmada pelo Hamas. 

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Sirenes antiaéreas soaram nas cidades israelenses que fazem fronteira com Gaza, como na parte sul da cidade de Beersheva e na área metropolitana de Tel-Aviv.  "As crianças escaparam do coronavírus e agora vivem um novo trauma", disse uma mulher israelense da cidade costeira de Ashkelon a uma emissora de televisão.

Na tarde desta quarta-feira, na cidade de Sderot, muito próxima ao território palestino, um menino de 6 anos foi morto por um foguete disparado de Gaza, segundo equipes de resgate israelenses. "Não pudemos salvar a criança devido à gravidade dos ferimentos", informaram em nota, sem especificar a natureza dos ferimentos. 

A julgar pelas declarações de ambos os lados, o conflito tende a se agravar. Benny Gantz, ministro da Defesa de Israel, disse hoje que os ataques não têm data para acabar. “Israel não está se preparando para um cessar-fogo. Não há data para o fim das operações”, afirmou. Já o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu prometeu fazer os palestinos pagarem um preço alto pela agressão. “Esta campanha levará tempo”, disse o premiê. 

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Moussa Abu Marzouk, número 2 do Hamas, também adotou um tom desafiador. “Os europeus nos contataram e nos pediram para pararmos de disparar mísseis de curto alcance, caso contrário, eles não participariam da reconstrução de Gaza. Eu disse a eles que sim, vamos parar de lançar mísseis de curto alcance e passaremos a disparar os de longo alcance.”

Foguetes contra Israel

Mais de mil foguetes foram disparados por grupos palestinos contra Israel desde que teve início a pior escalada de tensão entre árabes e judeus dos últimos anos. Destes, cerca de 850 atingiram o alvo ou foram interceptados pelo sistema de defesa antiaérea israelense, o Domo de Ferro, enquanto outros 200 falharam e caíram na própria Faixa de Gaza, segundo o porta-voz do Exército de Israel, Jonathan Conricus.

"Residentes de Gaza, vocês estão vivenciando esta operação militar porque as organizações terroristas optaram novamente por colocá-los na linha de fogo", disseram militares israelenses em um post no Facebook. "Fique longe deles. Fique longe dos locais onde atuam. Protejam-se e protejam suas famílias."

Foguetes são lançados em direção a Israel desde a Faixa de Gaza, controlada pelo grupo palestino Hamas. Foto: MAHMUD HAMS / AFP

Na manhã de quarta-feira, o Exército israelense instruiu todos os residentes, incluindo fazendeiros, que vivem em um raio de cerca de 4km de Gaza, a permanecerem temporariamente em suas casas, com medo de que o Hamas possa usar foguetes de curto alcance, foguetes de fogo direto ou atiradores para atacar civis. Os militares israelenses também expressaram preocupação de que o Hamas usaria túneis para se infiltrar no território israelense, apesar de um sistema de sensor subterrâneo recém-construído projetado para prevenir tais incursões.

Ataques aéreos em Gaza

A retaliação adotada pelo governo Netanyahu, até agora, tem se dado por ataques aéreos. Logo após o amanhecer desta quarta-feira, Israel lançou uma ofensiva aérea. Os principais alvos foram instalações policiais e de segurança. Testemunhas relatam que a cidade de Gaza foi tomada por uma espessa parede de fumaça cinza. O Ministério do Interior controlado pelo grupo palestino Hamas afirmou que os ataques destruíram o complexo que formava o quartel-general da polícia da cidade. 

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Uma mãe de quatro filhos em Gaza, Samah Haboub, disse que foi arremessada para o outro lado do cômodo em que estava no momento em que a cidade foi atingida, e descreveu um “momento de horror”.

Ela e seus filhos, que têm de 3 a 14 anos, dizem ter descido correndo as escadas de seu apartamento junto de outros moradores, muitos deles gritando e chorando. “Quase não há lugar seguro em Gaza”, disse ela. "Israel enlouqueceu", disse um homem em uma rua de Gaza, enquanto as pessoas saíam correndo de suas casas em meio às explosões que abalavam a cidade.

Possíveis crimes de guerra

Na manhã de quarta-feira, a procuradora-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, disse via Twitter que está preocupada com a possibilidade de que crimes de guerra estejam sendo cometidos na Cisjordânia nos últimos dias.

"Observo com grande preocupação a escalada da violência na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, bem como dentro e ao redor de Gaza, e a possível prática de crimes sob o Estatuto de Roma", escreveu.

Estabelecido pelo Estatuto de Roma em 2002, o TPI é um tribunal de último recurso para julgar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio quando um país é incapaz ou se nega a fazê-lo. "Meu escritório continuará monitorando os desenvolvimentos no local e levará em consideração qualquer assunto que seja de nossa jurisdição", disse Bensouda./AFP, AP, EFE, NYT, Reuters e W.POST

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