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Conflito entre Israel e Hamas: o que se deve saber sobre o tema

Com duas semanas de duração, confronto é marcado por mortes de civis, bombardeios aéreos e incessantes ataques de foguetes

Por Dan Bilefsky
Atualização:

GAZA - Enquanto palestinos e israelenses entram na segunda semana de um intenso conflito, uma série de mortíferos atiça ambos os lados, em uma região em que perder a vida na guerra é algo comum.

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Antes de o sol nascer na segunda-feira, 17, aviões israelenses bombardeavam a Cidade de Gaza, agravando o sofrimento dos civis que habitam o enclave à beira do Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, baterias de foguetes disparados pelo Hamas - o grupo militante que governa Gaza desde 2007 e não reconhece o Estado de Israel - continuaram a causar danos em cidades israelenses, incluindo Tel-Aviv, o centro econômico do país.

Enquanto as mortes de civis aumentam, o conflito polariza a sociedade israelense - e o mundo - como poucas vezes anteriormente e tem motivado os distúrbios mais intensos dos últimos anos dentro de Israel e nos territórios ocupados pelo país.

Veja os fatores que estão ocasionando esse conflito e seu histórico até aqui:

Mais de 200 palestinos foram mortos desde o início do conflito, em 10 de maio Foto: Mohammed Abed/AFP

Quem está sendo morto?

Bombardeios aéreos e fogo de artilharia de Israel contra Gaza, um enclave empobrecido e densamente povoado, com 2 milhões de habitantes, mataram pelo menos 212 palestinos, incluindo 61 crianças, entre 10 de maio e a manhã desta segunda-feira, o que produziu imagens chocantes de destruição que rodaram o mundo.

Na outra direção, mísseis do Hamas cravejaram cidades israelenses, espalhando medo e matando pelo menos dez pessoas no país, incluindo duas crianças - um número de mortes de civis em Israel maior do que na última guerra, em 2014, que durou mais de sete semanas.

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Estrategistas israelenses e representantes do governo do país afirmam que o objetivo da campanha contra Gaza é destruir o máximo possível a infraestrutura do Hamas, incluindo a rede de fábricas de foguetes do grupo e seus túneis subterrâneos - um sistema de tráfego que os militares de Israel chamam de “o metrô”.

Mas Israel tem enfrentado cada vez mais críticas da comunidade internacional em razão do crescente número de crianças mortas nos bombardeios contra Gaza. Imagens de corpos de crianças circularam pelas redes sociais nos dias recentes, juntamente com o vídeo de um abatido pai palestino confortando o filho ferido no colo - o único entre seus cinco filhos a sobreviver a um bombardeio de Israel. Um dos ataques aéreos contra Gaza matou oito crianças em um campo de refugiados.

Do lado israelense, uma das crianças mortas foi um menino de 5 anos, vítima de um foguete disparado em Gaza que atingiu diretamente o prédio ao lado do apartamento de sua tia, que ele visitava com a mãe e a irmã mais velha.

Algumas pessoas se feriram ou foram mortas em confrontos ocorridos em cidades de população mista de Israel, incluindo em Lod, onde duas pessoas morreram. E na Cisjordânia ocupada, pelo menos 20 palestinos foram mortos por forças israelenses na última semana.

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Como começou o atual conflito?

O conflito começou em 10 de maio, com a escalada de semanas de tensão em Jerusalém entre manifestantes palestinos, a polícia e israelenses de direita, no contexto da antiga batalha pelo controle da cidade sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos.

A raiz da recente onda de violência é uma intensa disputa por Jerusalém Oriental, que é habitada predominantemente por palestinos. Protestos ocorreram nos dias anteriores a um julgamento da Suprema Corte marcado para 10 de maio, mas que foi adiado, a respeito do despejo de várias famílias palestinas em Jerusalém Oriental. Autoridades israelenses descreveram o processo como uma disputa por terras. Muitos árabes o qualificaram como parte de uma campanha israelense mais ampla para expulsar os palestinos da cidade, descrevendo o processo como limpeza étnica.

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Os protestos se intensificaram após a polícia israelense proibir os palestinos de se reunir nas proximidades de uma das ancestrais portas da Cidade Velha, como costumam fazer durante o mês sagrado do Ramadã. A resposta da polícia veio em 10 de maio, em um ataque contra o complexo da Mesquita de Al-Aqsa, um dos lugares mais sagrados do Islã, para evitar que manifestantes palestinos jogassem pedras, afirmaram eles. Centenas de palestinos e alguns policiais ficaram feridos no confronto.

Militantes em Gaza, então, começaram a disparar foguetes na direção de Jerusalém, e Israel respondeu com bombardeios aéreos. As trocas de fogo aumentaram durante a semana, assim como as mortes - apesar de a população de Gaza ter sofrido um número desproporcional de baixas.

Que tipo de arsenal o Hamas possui?

Apesar da capacidade de vigilância de Israel e do avassalador poderio militar do país, militantes palestinos de Gaza conseguiram acumular um grande arsenal de foguetes com alcance cada vez maior, ao longo dos 16 anos desde que Israel se retirou do enclave costeiro, que o país tinha ocupado após a guerra de 1967.

O Hamas, com a ajuda de aliados de fora de Gaza - incluindo o Irã, de acordo com autoridades israelenses e do Hamas -, foi bem-sucedido em transformar seu arsenal numa ameaça cada vez mais mortífera. Desde que o conflito começou, na semana passada, o Hamas lançou mais de 3 mil foguetes contra Israel. A intensidade dos ataques colocou Tel-Aviv e outras cidades israelenses sob uma ameaça maior do que em conflitos anteriores.

Além de túneis e foguetes, especialistas na área militar e autoridades israelenses afirmam existir uma outra ameaça, menos mencionada e pouco evidente: comandos navais clandestinos que entram no território de Israel ou atacam o país a partir do mar, com possibilidade de atingir instalações de energia e regiões habitadas. Na segunda-feira, o Exército de Israel publicou um vídeo mostrando as forças israelenses destruindo uma embarcação que, segundo os militares, era suspeita de estar se encaminhando para realizar um ataque em águas israelenses.

Como a política influencia os acontecimentos em cada lado?

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Intensas disputas políticas pelas lideranças de Israel e da Autoridade Palestina são parte do pano de fundo do conflito. Após quatro eleições inconclusivas em dois anos em Israel, nenhum partido consegue formar uma coalizão de governo. Mas o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que responde a processos por corrupção, tem conseguido permanecer no poder e espera que os israelenses o apoiem durante a crise.

Nas eleições palestinas que foram adiadas recentemente, o Hamas esperava assumir o controle da Autoridade Palestina e se posicionava como defensor de Jerusalém. O grupo buscou reforçar esse voto disparando foguetes após a polícia de Israel atacar o complexo da Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém. / Tradução de Augusto Calil

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