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Confrontos entre Hamas e Fatah mataram 30 desde dezembro

Fatah, do moderado presidente palestino, Mahmoud Abbas, passou a adotar medidas semelhantes ao rival Hamas, como seqüestros e tiroteios

Por Agencia Estado
Atualização:

A geografia está tendo um papel de destaque nas violentas lutas por poder entre palestinos: quando o Hamas ataca de sua fortaleza em Gaza, seu rival Fatah retalia contra-atacando na Cisjordânia, onde tem domínio tanto em número quanto em poder. Tais confrontos, iniciados em dezembro, já deixaram mais de 30 palestinos mortos, em sua maioria na Faixa de Gaza. Um dos pontos altos da violência ocorreu neste fim de semana, quando membros do Fatah decidiram atacar militantes do Hamas na Cisjordânia. Os episódios de violência aconteceram dois dias após militantes do Hamas terem matado um militar aliado do Fatah e sete de seus guarda-costas em Gaza. O Fatah afirma que seu domínio na Cisjordânia mantém o Hamas na linha. Em uma tentativa de intimidar o Hamas, militantes do Fatah na Cisjordânia recorreram a novas táticas, incluindo seqüestros de governantes e tiroteios a militantes do Hamas. Após raptar o vice-prefeito da cidade de Nablus, Mahdi al-Khamali, na Cisjordânia, os seqüestradores ligados ao Fatah divulgaram um vídeo neste domingo mostrando o político no meio de dois homens armados - cena familiar no Iraque, mas nunca antes vista nos territórios palestinos. Qualquer ataque em Gaza será retaliado na Cisjordânia, avisou um dos homens armados no vídeo. A divisão territorial entre Hamas e Fatah está amplamente ligada à distribuição de tropas de Israel pelo local. Soldados israelenses deixaram Gaza em setembro de 2005, permitindo que o Hamas reconstruísse e expandisse sua milícia. Em compensação, Israel controla há tempos a Cisjordânia, local onde o Hamas é minoria. Dos cerca de 3,8 milhões de palestinos, aproximadamente 37% vivem em Gaza e 63% na Cisjordânia. Os dois territórios são separados por aproximadamente 40 quilômetros de território israelense, tornando impossível para a maioria dos palestinos viajar entre eles. Homens armados do Fatah ocasionalmente também são alvos de Israel na Cisjordânia, mas a maioria do poder de fogo do Fatah vem das forças de segurança leais ao moderado presidente palestino, Mahmoud Abbas. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pediu ao Congresso para que fornecesse US$ 83 milhões para treinar e equipar as forças ligadas a Abbas. Desde que venceu as eleições parlamentares, no ano passado, o Hamas investiu muito em sua unidade paramilitar em Gaza, a Força Executiva, com milhões de dólares vindos principalmente do Irã. A milícia atualmente tem 5.500 membros, mas milhares de simpatizantes podem ser recrutados a qualquer momento. Abbas, que lidera o Fatah, declarou a milícia fora-da-lei, provocando diversas criticas do Hamas, milícia que anunciou que irá duplicar o contingente da Força Executiva. O Hamas também criou sua própria indústria bélica em Gaza, construindo mísseis antitanque, morteiros, minas terrestres e granadas de mão. Túneis secretos que passam por baixo da fronteira entre Egito e Gaza são usados por contrabandistas para levar os suprimentos necessários para alimentar essa indústria. Além disso, alguns engenheiros armamentistas do Hamas são treinados no exterior. A Força Executiva também comprou veículos e criou campos de treinamento em toda Gaza. Contrastando com os militantes em Gaza, os membros do Hamas que vivem na Cisjordânia permanecem escondidos ou, quando aparecem em público, o fazem desarmados, com medo de serem alvejados por Israel. Neste domingo, dezenas de ativistas do Hamas, todos desarmados, se aglomeraram em um hospital na Cisjordânia para visitar Ehab Ghaiyatha, empregado do Ministério do Interior e militante do Hamas que foi ferido gravemente por homens armados do Fatah na cidade de Ramallah, no sábado. Ghaiyatha, de 27 anos, disse que homens o agarraram na rua, colocaram um capuz preto em sua cabeça e dirigiram com ele pela cidade durante 15 minutos. Em seguida, o atiraram do carro e dispararam em suas pernas. Ele acrescentou que o Hamas pode fazer pouco para proteger seus militantes. "Ninguém pode carregar armas aqui", disse. "Caso faça isso, (o portador da arma) pode se tornar um alvo para os israelenses, mas caso eles (homens armados do Fatah) continuem nos atacando, teremos de encontrar uma maneira de nos proteger." Os ataques do Fatah começaram após o Hamas matar, na quinta-feira, membros do Serviço de Segurança Preventiva, aliados de Abbas. O coronel Mohammed Ghayeb e outros sete guarda-costas foram mortos após uma série de mísseis atingirem sua casa, onde ele se abrigava e pedia, em um telefonema à rede de televisão palestina Palestine TV, por socorro minutos antes de ser assassinado.

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