Confrontos matam 18 pessoas na Síria

Conflitos entre desertores armados e forças de segurança se tornam cada vez mais comuns e revolta ganha contornos mais claros de guerra civil

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Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

Confrontos entre desertores armados e o Exército sírio deixaram ontem 18 mortos no norte do país. Os conflitos ocorreram um dia depois que a ONU aprovou uma resolução condenando a repressão do regime de Bashar Assad e confirmando as suspeitas de que a Síria vive uma guerra civil. Dos oito meses de protestos na Síria, novembro foi o mais violento: 950 pessoas morreram, entre elas 56 crianças, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com base em Londres. Ontem, nas primeiras horas da madrugada, na cidade de Idlib, ex-militares que abandonaram o Exército teriam atacado forças do governo. Na troca de tiros, sete policiais, cinco desertores e três civis morreram. Na sexta-feira, a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu "ação urgente" da comunidade internacional para proteger os civis na Síria. A possível disseminação da guerra civil preocupa a organização. Segundo a ONU, um número cada vez maior de soldados tem deixado as Forças Armadas e passado para a oposição. Ativistas acreditam que os desertores armados chegam a 5 mil. A repressão aos dissidentes matou ainda um civil na cidade de Deraa e outros dois em Homs. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, todos foram alvos de ataques de soldados de Assad. O aumento da tensão tem tido respostas diferentes por parte das grandes potências. Moscou acusa governos estrangeiros de "financiarem e armarem" a oposição. Na ONU, a delegação russa deixou claro, na sexta-feira, que Damasco "tem o direito de se defender" e alertou que a Síria corre o risco de sofrer a mesma intervenção militar ocorrida na Líbia. Ontem, o líder do Conselho Nacional Sírio, um dos principais grupos de oposição, Burhan Ghalioun, disse que não quer uma intervenção estrangeira no país. Ele afirmou que as "lições da Líbia" precisavam ser aprendidas e disse que os bombardeios da Otan elevaram o número de mortes. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, elogiou ontem a aprovação da resolução na ONU condenando os massacres na Síria. Segundo ela, o número elevado de apoio - 37 votos dos 47 membros - revela que Assad perdeu aliados. "A resolução mostra que o regime está isolado e o submete a uma pressão internacional mais forte do que nunca", disse. Se a repressão prosseguir, a Liga Árabe promete cumprir a partir de hoje as sanções econômicas e diplomáticas aprovadas no último dia 28. Mas o governo deu indicações de que continuará com a repressão para impedir a ação da oposição. Ontem, na fronteira com o Líbano, agentes de Assad prenderam 27 dissidentes e colocaram fogo na casa de nove pessoas, que conseguiram escapar. A agência oficial Sana confirmou as prisões, que seriam de "terroristas" que tentavam fornecer armas à oposição e permitir a infiltração de guerrilheiros no país. A ONU calcula que o número de mortos tenha ultrapassado 4 mil. No entanto, até agora, grande parte das vítimas era de manifestantes pacíficos que foram alvos da repressão. O temor da organização é que o conflito se generalize, aumentando a violência.

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