Congresso americano lança debate sobre guerra no Iraque

Disputa entre republicanos e democratas estendeu-se para o Senado, onde uma medida pela retirada das tropas americanas do Iraque foi votada; e rejeitada

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Congresso dos Estados Unidos iniciou nesta quinta-feira, em pleno ano de eleições legislativas, um debate clamoroso sobre a Guerra do Iraque. De um lado, os republicanos defenderam o conflito como um fator chave para vencer a luta global contra o terrorismo; do outro, os democratas aproveitaram a oportunidade para criticar as políticas do governo e o presidente George W. Bush. "Nós devemos nos manter firmes em nossa luta contra o terrorismo e o mal que ele espalha ao redor do mundo. Devemos renovar nossa convicção de que as ações dos malfeitores não irão ditar as políticas americanas", disse o porta-voz da Casa dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), o republicano Dennis Hastert, em um discurso cheio de referências aos ataques terroristas de 11 de Setembro. A Guerra foi um "erro grotesco", disse, por sua vez, a líder democrata Nancy Pelosi. "A administração continua cavando sua própria cova. Eles se recusam a sair e enxergar a luz", acrescentou. Proposto pela maioria republicana na Casa, o debate tinha como objetivo culminar na votação, na quinta ou sexta-feira, de uma resolução que irá rotular a Guerra do Iraque como parte de uma luta global contra o terrorismo. A medida também prevê que "uma data arbitrária para a retirada" das tropas não é parte dos interesses nacionais. O debate se estendeu para o Senado, que realizou uma votação teste sobre uma possível retirada do Iraque. A medida, rejeitada por 93 votos contra 6, exigia que todas as tropas que não estivessem envolvidas na reconstrução das forças de segurança iraquianas deixassem o país em 2007. Eleições Coreografado pelos republicanos, o debate vem à tona quatro meses antes da realização das eleições legislativas dos Estados Unidos, pleito que determinará o controle do Congresso nacional. A administração, por sua parte, estava tão determinada em passar sua mensagem que o Departamento de Defesa distribuiu um "livro de preparação para o debate", com respostas feitas sob medida para os críticos da guerra. O subtexto político estava claro desde o início. "É a Al-Qaeda ou a América? Deixemos os eleitores decidirem neste debate", disse o deputado republicano Charles Norwood, referindo-se aos críticos do conflito como derrotistas que não merecem ser reeleitos. Além das eleições legislativa de novembro, o debate acontece em um momento em que Bush tenta reconstruir o apoio dos americanos ao conflito, perdido nos últimos meses. A votação no Senado foi apresentada inesperadamente quando o líder republicano Mitch McConnell propôs uma legislação que, segundo ele, teve como inspiração uma proposta do senador democrata John Kerry, um crítico da guerra. A proposta do líder democrata pedia que Bush firmasse um calendário de retirada das tropas com o governo iraquiano. Segundo a medida, as forças americanas só poderiam permanecer no Iraque até o dia 31 de dezembro. Para o líder da maioria no Senado, Bill Frist, a retirada das tropas americanas daria fôlego aos terroristas. "Eu tenho absoluta convicção de que os terroristas a veriam (a retirada) como um atestado de vitória", disse. Ainda referindo-se a uma possível retirada, Frist previu que o terrorismo se espalharia pelo mundo e eventualmente atingiria os Estados Unidos. Os democratas, por sua vez, procuraram encurtar o debate, e a votação foi rápida. Kerry e outros democratas acusaram os republicanos de lançarem a discussão como parte de uma manobra com finalidades políticas, e prometeram um debate "autêntico" para a próxima semana. Aproveitando a divulgação pelo Pentágono do número de soldados americanos mortos no Iraque, o deputado Ike Skelton iniciou seu pronunciamento pedindo um momento de silêncio pelos 2.500 soldados mortos em combate. Manual para o debate O "livro de preparação para o debate", distribuído pelo Pentágono a republicanos e democratas, argumenta que "o Iraque se transformará no paraíso dos terroristas, assassinos e bandidos" caso os EUA deixem o país "antes de que o trabalho esteja concluído". "Nós não podemos cortar e correr", diz o texto em outro ponto, antecipando a resposta aos pedidos dos democratas pela retirada. "Nessa luta pelo futuro da paz, liberdade e democracia no Oriente Médio e em todo o mundo, a vitória deve ser a nossa única opção", disse o republicano Phil Gingrey. "Se ficarmos, pagaremos", respondeu o democrata John Murtha, que criticou "as políticas falidas dessa administração" e lamentou as vidas perdidas, os bilhões de dólares gastos e a imagem machucada dos Estados Unidos desde que a guerra começou.

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