BOGOTÁ - O Congresso da Colômbia arquivou nesta quarta-feira, 19, um polêmico projeto de reforma da saúde duramente criticado por manifestantes que tomam as ruas do país há quase um mês contra as políticas do presidente Iván Duque.
Apresentada pelo partido direitista Mudança Radical, a iniciativa era acusada de abrir espaço para a privatização do setor. A Colômbia enfrenta há 22 dias grandes protestos, que eclodiram inicialmente contra uma reforma tributária, já retirada pelo presidente Iván Duque, e avançam agora sobre outras pautas.
Entre os principais pontos da iniciativa, estão a regionalização do sistema de saúde a partir de elementos epidemiológicos e demográficos, e não de fronteiras administrativas. Um dos pontos mais criticados é a possibilidade de o governo promover o desenvolvimento de vacinas, medicamentos e insumos em parceria com empresas privadas.
O projeto também altera mecanismos de remuneração e contratação. Críticos argumentam que o projeto é favorável à rentabilidade financeira de seguradoras de saúde e de clínicas e hospitais particulares, em detrimento das necessidades da população.
A iniciativa foi arquivada por ampla maioria nas comissões do Senado e da Câmara dos Deputados responsáveis por seu estudo. “No Congresso acabamos de afundar a reforma sanitária. Uma vitória para a mobilização, organização e persistentes reivindicações do setor”, escreveu nas redes sociais o deputado federal Jorge Gómez Gallego, do partido esquerdista Dignidad.
A decisão do Congresso foi saudada com aplausos pelos manifestantes reunidos na Plaza de Bolívar.
O partido Mudança Radical disse em nota que lamenta a decisão porque a iniciativa garantia o direito à saúde e a sustentabilidade do sistema de saúde, incorporando soluções para problemas que se tornaram evidentes com a crise de covid-19.
Manifestantes voltam às ruas
Os protestos continuam nesta quarta-feira, 19, com manifestações registradas em Bogotá, Cali, Medellín e outras partes do país. As marchas antecedem uma reunião entre o governo e o Comitê do Desemprego, principal entidade representativa dos manifestantes.
Um dos principais pontos de disputa, no momento, é a polícia. Manifestantes exigem que o governo reconheça uso abusivo de força contra manifestantes e responsabilize seus agentes, o Duque tem até o momento se recusado a fazer.
Nesta semana, Duque ordenou que as forças de segurança liberem estradas bloqueadas por manifestantes, argumetnando que a prática causa escassez de matéria-prima e de alimentos em pontos do país. Paralelamente, lançou um programa para ampliar o acesso de jovens à universidade e a crédito para habitação.
Até o momento, ao menos 42 pessoas, a maioria civis, morreram durante os protestos. O país registra mais de 1.700 feridos. /Com EFE