
20 de maio de 2019 | 10h45
PARIS - Vários Estados-membros da União Europeia (UE) vêm sendo varridos, nos últimos anos, pelo surgimento de movimentos de oposição - como os coletes amarelos na França -, que vão às ruas para confrontar o governo e exploram as redes sociais como uma ferramenta para amplificar sua capacidade de mobilização. Contudo, o efeito deles nas próximas eleições europeias ainda é incerto. Entenda alguns desses movimentos abaixo.
Desde o dia 17 de novembro de 2018, manifestantes tomam as ruas da França todos os sábados. Deflagrado pelas redes sociais contra o aumento do preço do combustível, o movimento agora denuncia a política fiscal, as chamadas injustiças sociais, o déficit democrático, entre outros temas.
Mesmo reunindo menos pessoas do que no auge de sua mobilização - hoje não passam de 30 mil manifestantes, contra mais de 300 mil no início -, sua persistência ameaça o governo do presidente Emmanuel Macron, cuja renúncia é um dos itens de sua lista de reivindicações.
A resposta do governo, com proposta de reformas e liberação de recursos, não arrefeceu a determinação do grupo. O movimento teve repercussões na Bélgica, onde manifestantes reivindicaram a saída do primeiro-ministro, assim como na Holanda e na Alemanha, países onde não chegou a ganhar corpo.
Sem conseguir concretizar a saída da UE dentro do prazo inicialmente previsto, o Reino Unido deve votar nas eleições europeias de 23 de maio. Nelas, o "Partido do Brexit", de Nigel Farage, pretende se fazer ouvir.
Em pesquisa realizada em meados de abril, a sigla aparecia com 27% dos votos, à frente dos trabalhistas (22%) e dos conservadores (15%). O partido de Farage se apresenta como o "salvador do Brexit", capaz de concluir o divórcio do país com o bloco.
O governo conservador de Theresa May já pediu o adiamento do Brexit duas vezes. O Ukip, legenda britânica anti-Europa e anti-imigração que se intitula o "verdadeiro" partido do Brexit, está bem atrás de seu concorrente.
Convocadas por sindicatos, partidos de oposição e ONGs, 15 mil pessoas aderiram ao movimento anti-Orbán nas ruas de Budapeste no fim de dezembro. A multidão protestava em razão da política autoritária do primeiro-ministro Viktor Orbán, o que contribuiu para a suspensão de seu partido, o Fidesz, agora em março, do Parlamento europeu.
Ainda que a própria Hungria seja um dos principais beneficiários dos fundos europeus, Budapeste lançou em fevereiro uma ampla campanha contra a Comissão Europeia, acusando-a de favorecer a imigração, junto com o magnata George Soros. O vigor da mobilização popular não se manteve na Hungria.
Reivindicado por um militar, o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak e de sua companheira deflagrou, em 2018, manifestações em massa na Eslováquia e provocou a demissão do primeiro-ministro. O repórter estava prestes a publicar uma matéria sobre os supostos laços entre políticos eslovacos e a máfia italiana.
A onda de indignação contribuiu para levar ao poder a advogada liberal e militante anticorrupção Zuzana Caputova, primeira mulher eleita presidente no país.
O assassinato do popular prefeito de Gdansk, Pawel Adamowicz, de 53 anos, em janeiro causou indignação. Para vários poloneses, o verdadeiro responsável pelo homicídio não é o criminoso - um desequilibrado que esfaqueou o político, acusando-o de ser indiretamente responsável por seu longo período na prisão -, mas o discurso de ódio que polariza a classe política e a sociedade.
Nos últimos anos, uma hostilidade persistente entre o partido conservador no poder Direito e Justiça (PiS) e a oposição, de centro, transformou o debate público em uma troca de acusações mútuas, insultos e ameaças, sem provocar reação por parte do Estado.
A questão migratória e os boatos sobre o Pacto de Marrakech - afirmando que a UE cederia à ONU qualquer decisão sobre o ingresso de imigrantes no país - inflamaram a extrema direita alemã em dezembro. Ganhou espaço, em especial, o movimento Pegida - Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente.
Ainda que os manifestantes tenham, de forma muito breve, emulado algo à la coletes amarelos, sua mensagem é exclusivamente antigoverno e anti-imigração. Eles exigem a saída da chanceler Angela Merkel - considerada "culpada" de ter aberto o país para um fluxo em massa de imigrantes, sobretudo, refugiados sírios e afegãos - e pregam a defesa dos povos europeus e a supressão de todos os direitos aos estrangeiros.
Criado em 2015 em Dresden, antiga RDA, o Pegida está na linha de frente dessa mobilização que se renova a cada incidente envolvendo um refugiado.
Nascido em 2014 para denunciar a precariedade do mercado de trabalho, a corrupção da "casta" política e o poder excessivo de bancos e multinacionais, o Podemos - partido de Pablo Iglesias minado por divisões internas - acaba de sofrer um duro golpe nas legislativas espanholas. E, agora, ele tenta se remobilizar por ocasião das eleições europeias. / AFP
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