O rei Abdullah, da Arábia Saudita, concedeu ontem às mulheres pela primeira vez assentos no principal conselho consultor do país. A decisão garante a elas representatividade, mesmo que limitada, em um sistema ultraconservador e dominado por homens. Ativistas pelo direito das mulheres comemoraram a decisão, mas com ressalvas. "Há tantas leis e restrições que precisam ser suspensas ou alteradas para as mulheres serem tratadas como adultas, sem terem de se submeter às ordens de guardiães", disse Wajeha al-Hawidar.As sauditas não podem viajar sozinhas, estão proibidas de trabalhar no país e de estudar no exterior e até de serem admitidas em um hospital sem o consentimento de um parente do sexo masculino (guardião). Autoridades aeroportuárias são instruídas a avisar os maridos, pais ou irmãos de passageiras mulheres sobre seus deslocamentos. Elas também não podem se casar ou pedir o divórcio - a iniciativa para ambos tem de ser do homem.Wajeha acredita que a participação feminina no conselho consultivo do governo pode ajudar a mudar a imagem das mulheres no país. "Os homens podem passar a respeitar mais a mulheres se as presenciarem em papéis tradicionalmente masculinos", diz. O decreto do rei garante às mulheres 30 dos 150 assentos no Conselho Shura. O órgão é consultado pelo rei em temas importantes, como a revisão de leis, mas não tem poder legislativo. Todos os seus integrantes são nomeados pelo monarca para um mandato de quatro anos. Desde 2006, as mulheres podiam participar das decisões do órgão, mas apenas como conselheiras, sem assentos fixos.As integrantes do conselho devem estar "comprometidas com a sharia (lei islâmica)", terão acesso ao prédio do órgão por uma entrada reservada só para elas; assentos e o local para reza também serão segregados. / AP