No Conselho de Segurança da ONU, EUA advertem para 'clara ameaça' do Irã após ataques a petroleiros

Governo Trump pediu encontro nesta quinta-feira para discutir a situação no Golfo de Omã; secretário-geral da Liga Árabe alerta para 'evolução perigosa' no Oriente Médio e Irã nega 'categoricamente' participação no ataque

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Por Redação
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NAÇÕES UNIDAS - Os Estados Unidos pediram nesta quinta-feira, 13, ao Conselho de Segurança da ONU que enfrente a "clara ameaça" representada pelo Irã, após Washington acusar Teerã de estar por trás do ataque contra dois navios petroleiros, um da Noruega e outro de Singapura, no Golfo de Omã

O Conselho se reuniu para escutar o embaixador americano Jonathan Cohen, que apresentou um relatório sobre a responsabilidade do Irã nos ataques contra os petroleiros. 

Um dos petroleiros atacados no Golfo de Omã; suspeita recaiu sobre o Irã Foto: ISNA/Handout via REUTERS

Os ataques desta quinta-feira ocorrem um mês depois de outro incidente similar, contra quatro petroleiros diante da costa dos Emirados Árabes Unidos, e "demonstram a clara ameaça que o Irã representa para a paz e a segurança internacionais", disse Cohen.  "Pedi ao Conselho de Segurança que se mantenha atento ao assunto e espero que tenhamos mais conversas sobre como agir nos próximos dias". 

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Fontes do governo americano afirmaram ter imagens que mostram uma embarcação iraniana removendo uma mina que não explodiu em um dos petroleiros. As imagens, porém, não foram divulgadas.

A missão do Irã na ONU, por sua vez, afirmou que seu governo "rejeita categoricamente" a alegação dos EUA de que o país seria responsável pelo ataque. Além disso, Teerã condenou o episódio "nos termos mais fortes possíveis".

O comunicado divulgado na noite de quinta-feira pela missão afirma que o Irã "continua a estar preparado para ter um papel ativo e construtivo na garantia da segurança das passagens marítimas estratégicas, bem como para a promoção da paz, da estabilidade e da segurança na região".

O Irã advertiu contra a "coerção, intimidação e o comportamento maligno dos EUA" e expressou preocupação "com incidentes suspeitos" com os dois petroleiros nesta quinta-feira.

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Conselho de Segurança

A posição de Washington não foi compartilhada por outros membros do Conselho, que não veem evidência clara para vincular o Irã aos ataques, destacaram fontes diplomáticas. 

O embaixador do Kuwait, Mansour Al Otaibi, revelou que membros do Conselho condenaram a violência e muitos pediram uma investigação para determinar os fatos. "Gostaríamos de saber quem está por trás deste incidente".

Mais cedo, secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques, durante uma reunião do Conselho de Segurança sobre cooperação entre o organismo internacional e a Liga Árabe.

"Condeno todo ataque a navios civis", disse o chefe da ONU, que pediu uma investigação dos fatos ao mesmo tempo em que advertiu que o mundo não pode suportar um conflito de grandes proporções no Golfo.

Depois da intervenção de Guterres, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, denunciou perante o Conselho de Segurança "uma evolução perigosa" no Oriente Médio.

"O ataque aos petroleiros e os ataques com um míssil no coração da Arábia Saudita, como vimos há dois dias, são acontecimentos perigosos e deveriam levar o Conselho de Segurança a agir contra os responsáveis por manter a segurança e a estabilidade na região", disse.

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O chefe da Liga Árabe disse também que "algumas partes da região estão tentando reacender o fogo", mas não esclareceu sobre quais países se referia. Há um mês, quatro navios sofreram ataques similares na mesma região em frente à costa dos Emirados Árabes Unidos

Em um relatóriode investigação preliminar, os Emirados Árabes Unidos consideraram que os ataques foram obra de um "ator estatal", embora não tenha identificado o país responsável.

Consequências

Para o iraniano Trita Parsi, diretor do National Iranian American Council e autor de um livro sobre as negociações nucleares entre o governo de Barack Obama e o Irã, a Casa Branca estaria adotando uma tática para forçar o regime a negociar. “Já vimos este filme antes: mesmo na ausência de provas, mesmo com indícios de que outros podem estar envolvidos, os EUA e seus aliados apontarão o dedo para o Irã”, afirmou Parsi ao Estado

“É uma forma de tentar emparedar o Irã e forçar os líderes iranianos a negociar, mas pode acabar numa guerra regional.”

Segundo analistas, o risco de um conflito acidental aumenta a cada novo ataque. “Esses incidentes são um mau presságio, porque apontam para uma escalada calculada, que indica que ambos os lados estão se escondendo e tentando provocar o outro”, disse Fawaz Gerges, professor de política do Oriente Médio na London School of Economics. “Esse é um dos mais perigosos momentos da região na última década, pois qualquer ação pode provocar uma retaliação e uma guerra acidental tem grande risco de ocorrer.”

Preço do petróleo 

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O incidente aumentou a tensão regional e elevou o risco de um conflito e seus efeitos no preço do petróleo – depois dos ataques, o do barril subiu 3,85%.  O foi significativo, mas não é excepcional, dentro das variações de um mercado extremamente volátil. De acordo com especialistas, no entanto, um conflito poderia elevar os preços a até US$ 250 o barril (hoje o preço está em US$ 61,25). 

Segundo modelos desenvolvidos pelo economista e analista de risco Vincent Lauerman, da consultoria canadense Geopolitics Central, no cenário atual, com guerra verbal e ataques pontuais, o preço do barril poderia subir 10% até o fim do ano, chegando perto dos US$ 70 o barril.

“Poderia haver uma guerra por procuração entre Estados apoiados por Irã, de um lado, e países aliados de Arábia Saudita e EUA, do outro, como ocorre no Iêmen, mas englobando toda a região. Nesse caso, o preço poderia chegar a US$ 100 o barril e seria difícil para qualquer dos membros da Opep modificar esse cenário com aumento da produção”, escreveu Lauerman em relatório publicado em maio. 

“O pior cenário, mas também o mais improvável, é de uma guerra entre Irã e Arábia Saudita diretamente. Nesse caso, a depender das consequências, como fechamento do Estreito de Ormuz, o barril poderia chegar a US$ 250 – mas tanto EUA quanto Irã e Arábia Saudita querem evitar esse cenário”. / NYT, AFP e REUTERS, COM RODRIGO TURRER

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