Conselho de Segurança turco não endossa acordo com EUA

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Por Agencia Estado
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Os maiores líderes militares e políticos da Turquia reuniram-se hoje para discutir planos dos Estados Unidos de enviar cerca de 60.000 soldados ao país para uma possível guerra contra o Iraque, mas acabaram não fazendo nenhuma recomendação sobre como o Parlamento deve votar na questão. A falta de um endosso explícito do Conselho de Segurança Nacional coloca mais pressão sobre os legisladores, que já hesitavam em aprovar a entrada das tropas, em vista da forte oposição pública a uma guerra no Iraque. Líderes do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no governo, haviam convocado a votação para quinta-feira, mas decidiram postergar a reunião do Parlamento até amanhã, em meio a sinais de que alguns legisladores do partido iriam votar contra a moção. O Conselho de Segurança Nacional da Turquia, que reúne os maiores generais e líderes políticos do país, como o presidente Ahmet Necdet Sezer e o primeiro-ministro Abdullah Gul, discutiram hoje possíveis bases para um acordo. O breve comunicado do conselho diz apenas que a questão fora "avaliada", mas não traz recomendações. Um endosso do conselho tornaria mais fácil para o Partido da Justiça aprovar a moção, já que demonstraria o apoio dos militares à iniciativa. "Sem algum tipo de apoio dos militares, a oposição intrapartidária será mais forte, mas não acho que será forte o suficiente para barrar uma decisão", considerou Ilter Turan, um cientista político da Universidade de Bilgi, em Istambul. No mês passado, o conselho concordou que tropas dos EUA ficassem estacionadas no país, o que abriu caminho para o Parlamento aprovar que os EUA renovassem bases turcas que poderiam ser usadas numa guerra no Iraque. O endosso não foi repetido na reunião de hoje. O encontro também ocorreu em meio a notícias em jornais turcos dando conta que os militares estão irritados com os planos norte-americanos de armar grupos de oposição curda no norte do Iraque, no caso de uma guerra. Diversos integrantes do Partido da Justiça já disseram que vão votar contra a entrada das tropas norte-americanas. Estrategistas militares dos EUA consideram que a abertura de um front setentrional a partir da Turquia é crucial para os planos de guerra. Centenas de veículos militares dos EUA já estão estacionados no porto de Iskenderun, no sul da Turquia, esperando pela decisão turca, que está sendo considerada pelo governo há três semanas. Oficiais dos Estados Unidos estão muito irritados com a demora na tomada de decisão. Washington tem oferecido à Turquia cerca de US$ 15 bilhões em ajuda e empréstimos para proteger a economia turca do impacto de uma guerra. Mas as discussões sobre o pacote ainda não foram concluídas. Washington insiste que o dinheiro seja colocado sob a supervisão do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas a Turquia quer que a ajuda dos EUA seja separada de seu programa de reformas econômicas, apoiado pelo FMI. Os dois lados também discutem temores da Turquia de que uma guerra possa levar à fragmentação do Iraque, o que poderia incentivar os curdos iraquianos a declararem um Estado independente, inspirando assim a minoria curda turca. Os militares da Turquia querem permissão para entrar com tropas no norte iraquiano no caso de uma guerra. Os curdos da região adiantam que elas seriam recebidas como inimigas.

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