Um diplomata brasileiro disse que, certa vez, presenciou um telefonema de Hugo Chávez para Lula. Como o presidente brasileiro demorou a atender, o venezuelano brincou: "Você sabe que se não falo com você logo, eu arrumo confusão." Para países como os EUA e a Colômbia, a esperança é que Lula use a proximidade com Chávez para conter o venezuelano. Com um discurso incendiário, Chávez já chegou a enviar tropas para a fronteira, defendeu o reconhecimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como grupo beligerante e, durante a crise hondurenha, em 2009, queria restituir o presidente deposto Manuel Zelaya à força. É nessas ocasiões que se espera que um telefonema de Lula o ajude a agir de forma um pouco mais moderada, para o bem e a estabilidade da região, que também interessam ao Brasil. "Na atual crise, a expectativa é a de que Lula seja um intermediário de bons ofícios (que não opina nem interfere na negociação), não um mediador", diz o ex-chanceler colombiano Augusto Ramírez Ocampo, lembrando a discrição brasileira na crise com o Equador. A estreita amizade do Brasil com a Venezuela é até justificada por autoridades colombianas. "Faz parte do jogo", dizem. Mas não há como negar que causa alguma desconfiança em relação ao governo brasileiro.