A Assembleia-Geral da ONU deve reconhecer implicitamente na quinta-feira a Palestina como um Estado soberano, apesar das ameaças dos EUA e de Israel de punir a Autoridade Palestina, retendo verbas importantes para o governo da Cisjordânia. Uma resolução de autoria palestina que altera o status da Autoridade Palestina de "entidade" observadora para "Estado não-membro" -como o Vaticano- deve ser aprovada por ampla margem entre os 193 países da Assembleia-Geral da ONU. Israel, EUA e alguns outros países pretendem votar contra a resolução, que eles consideram ser uma manobra apenas simbólica e contraproducente dos palestinos. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, obteve o apoio de mais de uma dúzia de países europeus, após um conflito de oito dias, neste mês, entre Israel e militantes islâmicos palestinos na Faixa de Gaza. O Departamento de Estado norte-americano disse na quarta-feira que o subsecretário Bill Burns e o enviado especial David Hale viajaram a Nova York para uma última tentativa de convencer Abbas a desistir da votação. Os palestinos não deram sinal de que irão recuar. Os EUA insistem que o eventual reconhecimento do Estado da Palestina só pode acontecer após um processo de negociação com Israel, e não via ONU. "O caminho para uma solução com dois Estados que cumpra as aspirações do povo palestino passa por Jerusalém e Ramallah, não por Nova York", disse a secretária de Estado Hillary Clinton a jornalistas. "A única forma de chegar a uma solução duradoura é começando negociações diretas." Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado, reiterou os alertas de que a votação na ONU pode levar a uma retirada do apoio econômico norte-americano à Autoridade Palestina. Israel também alertou que poderá fazer deduções significativas das transferências mensais de valores relativos a impostos que Israel cobra em nome da Autoridade Palestina. No ano passado, os palestinos tentaram sem sucesso a adesão plena à ONU, barrada pelos EUA no Conselho de Segurança. O status de "Estado observador não-membro", embora não configure a adesão, permite que os palestinos tenham acesso ao Tribunal Penal Internacional e a alguns outros organismos internacionais. A sessão da Assembleia-Geral está marcada para as 18h (hora de Brasília). Os palestinos contam com forte apoio das nações em desenvolvimento, que compõem a maioria do plenário. Para que a medida seja aprovada, basta a maioria simples entre os países da ONU. Os palestinos esperam ter pelo menos 130 votos. O processo de paz com os israelenses está interrompido há dois anos, principalmente por causa da recusa de Israel em paralisar a ampliação dos seus assentamentos da Cisjordânia, considerados ilegais à luz do direito internacional. Em sua proposta de resolução, os palestinos prometem retomar o processo de paz imediatamente depois da votação na ONU. (Reportagem de Andrew Quinn em Washington, Noah Browning em Ramallah, Jeffrey Heller em Jerusalém, Michelle Nichols em Nova York)