Contradições na proposta iraniana

Um programa civil de enriquecimento de urânio para a produção de energia nuclear deve, por natureza, ser muito maior do que um programa para a produção de uma bomba. Ou seja, o oposto do que muitos acreditam. Não existe enriquecimento em pequena escala para a produção de energia nuclear. Comparando, é necessário um poder de enriquecimento 25 vezes maior para alimentar um reator comum de 1.000 megawatts, como o que os russos construíram em Bushehr, no Irã, do que para alimentar uma única bomba.

PUBLICIDADE

Por ANÁLISE: Gary Milhollin , Valerie Lincy e BLOOMBERG NEWS
Atualização:

Se o Irã tivesse o poder de enriquecimento para alimentar o reator de Bushehr por um ano e depois decidisse fazer bombas, poderia produzir o combustível para uma ogiva nuclear a cada 15 dias - ou seja, 25 por ano. Nenhum acordo com os EUA permitiria que o Irã tenha esse poder.

PUBLICIDADE

As centrífugas do Irã não se enquadram num programa pacífico de energia nuclear. São poucas demais para alimentar um reator, mas suficientes para a produção de armas nucleares. Até o momento, as centrífugas do Irã enriqueceram um estoque de urânio que está a dois terços da capacidade de produzir armas.

Uma solução seria que o Irã continuasse operando suas centrífugas e se livrasse de seu estoque de urânio enriquecido. Usando urânio natural, as centrífugas precisariam de seis meses para enriquecer urânio suficiente para uma bomba. O que daria a outros países o tempo para intervir se o Irã acelerasse a construção da bomba. O urânio enriquecido que o Irã já produziu poderia ser enviado para a Rússia, para ser transformado em barras de combustível que não podem ser utilizadas rapidamente na construção de armas. E o Irã teria de deixar aproximadamente 9 mil de suas centrífugas - cerca da metade - instaladas, mas sem operar. Outra opção do Irã consistiria em guardar seu urânio enriquecido, mas reduzir gradativamente a operação de suas centrífugas. Os EUA precisarão insistir numa dessas opções.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

* MILHOLLIN É PRESIDENTE DO PROJETO WISCONSIN DE CONTROLE DE ARMAS NUCLEARES, QUE PUBLICA O IRANWATCH.ORG. VALERIE LINCY É DIRETORA EXECUTIVA DO PROJETO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.