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Contraste entre crise e entusiasmo pode ser útil

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Por Fernando Dantas
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A economia americana deve recuar 0,7% em 2009, segundo a última previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), número considerado até otimista diante de outras projeções. O desemprego, que atingiu 7,2% em dezembro, pode chegar a 10% em algum momento nos próximos dois anos, de acordo com diversos analistas. Nos últimos quatro meses de 2008, o mercado de trabalho dos EUA perdeu 1,9 milhão de empregos. É nesse cenário econômico catastrófico, com o setor bancário despedaçado, o mercado residencial ainda em colapso e a onda incessante de retomada de casas com hipotecas inadimplentes, que Barack Obama toma posse hoje como o 44º presidente americano. É um momento em que a situação da economia não poderia ser mais diferente da onda de entusiasmo político que tomou conta dos EUA. Esse contraste, entretanto, pode ser útil ao futuro presidente, que espera contar com a mobilização popular como uma ferramenta a mais para pressionar o Congresso a aprovar suas medidas econômicas . "Ele vai usar de forma inédita a pressão popular sobre o Congresso", prevê o cientista político George Edwards, da Universidade A&M do Texas. Edwards nota que Obama está tocando um projeto de prolongar a vida das organizações populares que batalharam por sua eleição e contam com um acervo de 13 milhões de endereços de e-mail, 4 milhões de números de telefone celular e 2 milhões de voluntários para exercer pressão sobre a opinião pública (mais informações na pág. 9). Obama está seguindo, de forma assumida, os passos do presidente Franklin D. Roosevelt, que enfrentou a Grande Depressão com estratégia política de uma intensa comunicação com o público (na época, basicamente pelo rádio), para prepará-lo para os tempos difíceis e para apoiar suas iniciativas de política social e econômica. Na era da informática, esta estratégia de persuasão inclui a postagem de vídeos do YouTube na internet, nos quais especialistas como o economista Lawrence Summers, que assume o cargo de diretor do Conselho Econômico Nacional, vão explicar de forma detalhada e didática as medidas do pacote econômico. Além disso, também na internet, os americanos deverão acompanhar os gastos do megapacote de estímulo fiscal, descendo a detalhes como o número de salas de aula que já foram informatizadas. O que Obama vai pedir aos congressistas não é pouco: o programa de estímulo fiscal prevê quase US$ 800 bilhões em cortes de impostos, ajuda a Estados, programas sociais e investimentos em infraestrutura. Isto se soma à segunda fatia de US$ 350 bilhões do plano de resgate do setor financeiro lançado por George W. Bush, que ficou para Obama utilizar. Por outro lado, o novo presidente conta com níveis altíssimos de entusiasmo popular para engatar a opinião pública na corrente de pressão em favor de seus projetos. Segundo pesquisa da CNN, um total de 79% dos americanos se dizem otimistas quanto ao novo governo, incluindo 58% daqueles que votaram no candidato republicano John McCain.

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