Controlar equipe econômica será desafio para Obama

Para analistas, presidente eleito precisa fazer com que excesso de estrelas não acabe se tornando um problema

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Por David Cho e Alec MacGillis
Atualização:

A nomeação do ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker para a equipe que vai assessorar Barack Obama na resolução da atual crise econômica só aumenta um desafio crucial de liderança que o presidente eleito dos EUA terá de enfrentar: como gerenciar um quadro formado por grandes cabeças - e egos ainda maiores - e como tomar decisões quando eles se desentenderem. A tendência de Obama de cercar-se de pessoas altamente credenciadas, e também acostumadas a comandar, será um teste para sua habilidade em administrar crises, é o que dizem economistas, historiadores e ex-funcionários da Casa Branca. Para eles, Obama precisa se assegurar de que esse excesso de mentes brilhantes não se transforme num problema, à medida que os assessores, que vão dirigir agências com mandatos sobrepostos, começarem a disputar a atenção do presidente e tentar influenciar a política. "Você desejaria reunir nada menos do que os melhores, apesar de grandes estrelas possuírem egos um tanto exagerados e esses egos poderem dificultar um trabalho conjunto", disse Peter J. Wallison, ex-conselheiro de Ronald Reagan e hoje diretor do American Enterprise Institute. Mas, para Wallison, Obama tem de estabelecer limites de autoridade para evitar uma sacudida nos mercados financeiros. "É um problema de administração e espero que Obama, que nunca teve um cargo executivo, compreenda a confusão que pode ocorrer, a menos que nomeie um porta-voz específico", disse ele. "Participei de muitas administrações e vi como as coisas podem fugir do controle." O enfoque adotado por Obama como senador - reunir muitas pessoas inteligentes para que analisem e discutam as questões - poderá não funcionar tão bem quando decisões urgentes precisarem ser tomadas. E esse desafio pode ser crucial, já que pelo menos um membro da equipe, Lawrence Summers, é muito conhecido por ser um homem de pensamento profundo, mas também pela autoconfiança com que faz valer suas idéias. E as apostas não poderiam ser maiores, já que a nova equipe enfrenta a pior crise financeira nacional em décadas. Uma pequena divergência em declarações de caráter político pode tumultuar o mercado. Por exemplo, nas últimas duas semanas o secretário do Tesouro, Henry Paulson, fez algumas declarações que, para muita gente do mercado, indicavam que qualquer futuro pacote de ajuda financeira ficaria para o próximo governo. Os operadores do mercado começaram a liquidar as ações em algumas das maiores instituições financeiras dos EUA, e os funcionários do Tesouro apressaram-se para esclarecer as observações feitas pelo secretário. O novo conselho - que abrange figuras acadêmicas, empresariais, e trabalhistas - está encarregado de dar pareceres francos sobre como relançar a economia. O presidente eleito disse que "a realidade é que às vezes o exercício da política em Washington pode se tornar muito isolado", acrescentando que "as paredes da câmara de ressonância às vezes podem manter de fora novas vozes e novas maneiras de pensar". Mas pessoas do meio político de Washington dizem que Summers deverá dominar a equipe econômica como chefe do Conselho Econômico Nacional, apesar de o secretário do Tesouro tradicionalmente ser considerado o mais influente. Summers trabalhará na Casa Branca, com acesso fácil ao Salão Oval, enquanto Geithner terá de passar por canais formais para obter uma audiência com Obama. E qualquer desacordo entre os dois pode ser muito incômodo.

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