31 de agosto de 2013 | 02h04
Evo foi além. "Fui acusado de narcotraficante, de assassino, mas nunca de corrupto. E nunca fugi", afirmou. A descrição da fuga feita pelo senador ao 'Estado' esta semana sugere que o medo e a pressa - o grupo levava fraldas geriátricas - eram desproporcionais, superiores ao que a estrutura de segurança boliviana sugere. Ou pelo menos à imagem que os bolivianos têm dela.
Opositores desconfiam que a indiferença quanto ao grau de dificuldade da fuga fortalece a tese de uma "escapada pactuada". Segundo o ex-vice presidente boliviano Víctor Hugo Cárdenas, crítico do governo de Evo, comenta-se que uma negociação teria de ocorrer logo, porque o contrato que estipula o preço do gás boliviano comprado pelo Brasil vence em 2018. "O vice-presidente também falou recentemente que o senador poderia sair da embaixada, ir ao mercado e ninguém o deteria. Isso aumentou os rumores", disse Cárdenas ao 'Estado'.
A lista de fugitivos da Bolívia inclui ex-prefeitos, ex-governadores e até um ex-presidente, Gonzalo Sánchez de Lozada, que em outubro completará dez anos fora do país. Os bolivianos pediram sua extradição aos EUA, mas não conseguiram. "O mesmo deve ocorrer com Pinto", diz a deputada Rebeca Delgado, do Movimento ao Socialismo, partido que sustenta o governo de Evo. "Pinto não vai voltar porque nossa política de extradição é fraca", afirmou a ex-presidente da Câmara, que se distanciou da linha mais dura governista e se intitula "livre pensadora".
Os pontos de fuga são conhecidos entre os bolivianos: Desaguadero, na fronteira com o Peru, Puerto Quijarro, com Brasil - por onde saiu o senador - e Villazón, com Argentina. Em casos que ocupam as manchetes, como o de Pinto, a polícia lamenta a fuga e reforça a segurança por um tempo. Quando alguém importante desaparece, há até uma frase feita: "Já deve estar no Peru".
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