Copiloto derrubou Airbus na França de forma deliberada

Andreas Lubitz, de 28 anos, bloqueou a porta da cabine, impedindo que comandante retornasse ao posto; Procuradoria da República da França diz não ter indícios sobre motivações do crime

PUBLICIDADE

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

(Atualizada às 14h45) PARIS - A tragédia do voo 4U9525 da Germanwings foi causada pelo copiloto da aeronave, o alemão Andreas Lubitz, de 28 anos, informou nesta quinta-feira, 26, a Procuradoria da República de Marselha, na França. Com base nas gravações de uma das caixas-pretas do Airbus, a investigação apontou que o tripulante provocou a descida do avião por iniciativa própria até o choque com uma montanha dos Alpes do sul. Sozinho na cabine, o jovem não reivindicou o ato, deixando em aberto a razão do crime. 

PUBLICIDADE

As revelações sobre os 30 minutos finais do voo entre Barcelona, na Espanha, e Dusseldorf, na Alemanha, foram possíveis graças à captação dos sons na cabine pelo Cockpit Voice Recorder (CVR), uma das duas caixas-pretas de aviões comerciais - a única localizada até agora em meio aos destroços. Na quarta-feira, um arquivo digital foi extraído do equipamento pelos peritos do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA, na sigla em francês), o órgão responsável pela apuração das causas do acidente.

No final da manhã desta quinta, o procurador Brice Robin reuniu-se com as famílias de vítimas, comunicando-lhes do resultado preliminares da investigação. Às 13h, Robin convocou a imprensa e informou: a queda do avião da Germanwings não foi um acidente, mas um crime. As gravações indicam que, "por necessidades fisiológicas", o piloto da aeronave, cujo nome ainda não foi confirmado, dá ordens a Lubitz, transfere o controle da aeronave e deixa a cabine - um procedimento normal. Ouve-se o assento recuar e a porta se fechar. A partir de então, o copiloto fica sozinho no cockpit.

"Quando ficou só, o copiloto manipulou os botões do Sistema de Monitoramento de Voo para acionar a descida do aparelho", informou Robin, confirmando a atitude deliberada de derrubar a aeronave. "Ele acionou esse botão por uma razão que nós ignoramos totalmente, mas que pode ser analisada como uma vontade de destruir o avião."

De acordo com Robin, o comandante tenta retornar à cabine, bate à porta, mas não é atendido. A hipótese mais provável é de que Lubitz tenha acionado o mecanismo que bloqueia a porta, impedindo que ela seja aberta por fora. A partir de então, o copiloto permanece em silêncio, mas a gravação capta sua respiração normal, sem sinal de nenhum problema de saúde. "Ele estava vivo até o momento do choque", completou o procurador. 

Durante o período da descida, os gravadores registram ainda a voz de controladores de tráfego aéreo contatando o avião, sem resposta do copiloto, que não faz nenhum alerta de "Mayday", o pedido de socorro. Tão foi possível ouvir ainda as tentativas de o piloto arrombar a porta blindada da cabine, os alertas automáticos de baixa altitude e de choque iminente. "Nenhuma mensagem de desastre ou de urgência foi recebida pelos controladores aéreos e nenhuma resposta foi dada ao conjunto de chamados dos diferentes controladores aéreos", afirmou Robin. "A interpretação mais plausível é de que o copiloto, por abstenção voluntária, recusou-se a abrir a porta da cabine ao comandante de bordo e acionou o botão orientando à perda de altitude."

Antes da colisão fatal, o Airbus A320 ainda raspou em pelo menos um pico, até atingir a montanha em cheio a mais de 700km/h. Segundo a investigação, os 144 passageiros do voo só compreenderam o que se passava nos instantes finais, quando são registrados os gritos vindos da cabine de passageiros. "Nós só ouvimos os gritos no fim, nos últimos instantes, e a morte foi instantânea", reiterou o procurador.

Publicidade

Se as causas do acidente parecem esclarecidas, as motivações de Lubitz são totalmente desconhecidas das autoridades. "Até este momento, nada nos permite dizer que se trata de um atentado terrorista", afirmou o procurador, frisando o fato de que o copiloto não se manifestou durante os minutos de queda do avião - não atribuindo, portanto, o ato suicida a nenhum grupo ou causa política ou religiosa. "O copiloto tinha nacionalidade alemã e nada o ligava a um histórico de terrorista."

Para Carsten Spohr, diretor-presidente da Lufthansa, proprietária da Germanwings, as investigações não deixam dúvida. "Nós cremos que o avião foi deliberadamente levado a colidir com a montanha, por vontade do copiloto", disse Spohr, advertindo também não haver indícios de terrorismo, mas ressaltando se tratar de um assassinato em massa, e não de um suicídio. 

"Quando uma pessoa provoca com a sua morte a morte de outras 149 pessoas, não é a palavra 'suicídio' que deve ser empregada", afirmou Spohr, que definiu o caso como "a maior tragédia da história da companhia", apesar de tratar-se de um caso isolado.

Em uma declaração pública pouco comum, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se disse chocada e incrédula com uma "catástrofe inimaginável". "O que foi perpetrado foi um crime", sublinhou a chanceler.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.