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Cordialidade em público e pressão a portas fechadas

Por Helene Cooper
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Em Washington, na quarta-feira, muito se falou sobre todos os recursos que os EUA estão usando para ajudar Afeganistão e Paquistão a trabalhar unidos para melhorar a vida de seus cidadãos. O presidente Barack Obama falou sobre como membros do seu gabinete, como o secretário da Justiça, Eric Holder, e o da Agricultura, Tom Vilsack, se reuniriam com afegãos e paquistaneses para ajudá-los a criar instituições democráticas para o governo. A secretária de Estado, Hillary Clinton, falou sobre um pacto comercial entre os dois países para incrementar o comércio. O assessor de Segurança Nacional, James L. Jones, insistiu numa reforma do Judiciário e a necessidade de erradicar a corrupção no Afeganistão. Mas como o Taleban e outros insurgentes se aproximam cada vez mais de Islamabad, a única coisa que parece não ter sido falada publicamente é aquela que os assessores de Obama reconhecem ser a mais importante: como convencer o Exército do Paquistão a transferir as tropas do leste - onde estão preocupados com uma guerra com a Índia - para o oeste do país, onde os insurgentes islâmicos vêm capturando uma cidade atrás da outra. Obama referiu-se de passagem ao problema, mas seus assessores estão pressionando o Paquistão para encontrarem uma solução. Ao lado dos presidentes afegão e paquistanês, Hamid Karzai e Asif Ali Zardari, Obama disse apenas: "Nos reunimos como três nações soberanas unidas por um objetivo comum: desorganizar, desmantelar e derrotar a Al-Qaeda e seus aliados extremistas no Paquistão e Afeganistão, e impedir que, no futuro, consigam operar nos dois países." Em parte, essa divergência entre a diplomacia privada e a pública é porque as autoridades americanas não gostariam de deixar oficialmente explícito o que querem dos dois governos. Outra razão pela qual ninguém quer falar publicamente sobre o que os EUA querem do Paquistão é que ambos os países encaram de maneira completamente diferente a questão da insurgência no oeste do Paquistão. "Essa situação existe há décadas", explicou uma autoridade paquistanesa, que pediu para não ser identificada. "Essa gente sempre tentou impor a lei islâmica nas áreas tribais." Segundo a mesma autoridade, o Paquistão está mais preocupado em conseguir que o governo americano suspenda os ataques com seus aviões não tripulados, Predator, muito mais prejudiciais para a sobrevivência do governo do que os insurgentes do Vale do Swat. * Helene Cooper é comentarista de assuntos diplomáticos

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