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Cordilheira e idioma desafiaram brasileiros

Militares são elogiados por missão

Por João Paulo Charleaux e SÃO PAULO
Atualização:

Os 18 militares brasileiros que participaram do resgate dos seis reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) enfrentaram várias situações curiosas ao longo dos sete dias de missão na selva colombiana. Como nenhum deles fala espanhol fluentemente, ninguém - nem os funcionários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) nem os reféns - entendia o que eles diziam em português. Os militares brasileiros ficaram assustados ao sobrevoar a Cordilheira dos Andes, mas ao final tudo deu certo e a experiência foi inesquecível para o grupo. "As libertações despertaram sentimentos novos e emocionantes para todos", disse ao Estado a chefe das operações do CICV para a América Latina, a suíça Patrícia Danzi, que esteve no helicóptero durante duas das três operações de resgate. O coronel Achiles Furlan Neto, que comanda o grupo, disse que a sensação de participar "da libertação de cinco sequestrados que puderam se reencontrar com suas famílias é algo tão bonito que te faz seguir" em frente. Apesar de integrarem um batalhão de elite que atua nas fronteiras, os brasileiros não falavam espanhol. Dois deles se comunicaram com o restante da equipe em inglês e francês. "Mas eles entendiam tudo perfeitamente. Nós é que não conseguíamos entender português", contou Patrícia. Segundo ela, um dos momentos mais difíceis para os pilotos foi sobrevoar a cordilheira em direção a Cali, onde os helicópteros tiveram de contornar montanhas de até 5 mil metros - um desafio novo para os pilotos brasileiros, acostumados a voar na selva e em condições meteorológicas adversas. Para evitar problemas de respiração provocados pelo ar rarefeito, um militar especialista em oxigênio foi incluído no grupo. Patrícia também revelou que os três policiais e o militar libertados no domingo, na primeira das três etapas da operação, foram pegos de surpresa. "Eles foram informados de que quatro pessoas seriam soltas naquele dia, mas não sabiam que seriam eles", disse Patrícia. O Brasil cedeu 18 tripulantes e 2 helicópteros modelo Cougar do 4º Batalhão de Aviação do Exército, com base em Manaus, para auxiliar na operação. Enquanto uma aeronave partia para os resgates, a outra esperava em solo, de reserva, com os outros 13 militares a postos. "O envolvimento do Brasil deu uma dimensão internacional à missão", disse Patrícia. "A tripulação brasileira foi muito profissional. Eles fizeram um tremendo trabalho, apesar da pouca familiaridade com a área onde estavam voando." Patrícia se disse contente com a missão, mas lembrou dos "milhares de colombianos cujo paradeiro é desconhecido", entre eles militares colombianos que há dez anos são mantidos em poder da guerrilha. O CICV não descartou a possibilidade de um acordo que permita outras libertações no futuro, mas não fez menção a um possível papel do Brasil, elogiado pela discrição na atual missão.

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