Coreano relata fuga espetacular de prisão

Casos de humilhação e tortura estão em livro de ex-prisioneiro

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Por Blaine Harden
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No Campo nº 14, a prisão política norte-coreana onde Shin Dong-hyuk nasceu e onde afirma ter testemunhado o enforcamento de sua mãe, os detentos não precisavam conhecer o rosto do "Querido Líder", como Kim Jong-il é conhecido. Atrás de cercas elétricas, eles criavam porcos, curtiam couros, recolhiam lenha e trabalhavam nas minas até morrer ou ser executados. A exceção é Shin, de 26 anos, que vive num pequeno quarto alugado em Seul. Há cicatrizes de queimaduras nas suas costas e no braço esquerdo, marcas de quando foi torturado aos 14 anos por não ser capaz de explicar por que sua mãe - que seria enforcada pouco depois - teria tentado escapar. O dedo médio da mão direita foi decepado na primeira junta, por ter derrubado acidentalmente uma máquina de costura na fábrica têxtil do Campo nº 14. A história de Shin é contada no livro Fuga para o Mundo Exterior, no qual ele descreve a selvageria rotineira da vida no campo de prisioneiros, como o estupro do seu primo pelos guardas e o espancamento até a morte de uma menina flagrada com cinco grãos ilegais de trigo no bolso. Certa vez ele encontrou três grãos de milho no esterco de vaca. Ele os limpou na manga da camisa e os comeu. "Por pior que isto soe, aquele foi o meu dia de sorte." Shin escapou enquanto trabalhava na fábrica têxtil do campo com um prisioneiro mais velho. Quando estavam coletando lenha num local remoto do campo, em janeiro de 2005, os dois correram na direção da cerca elétrica. Seu amigo ficou preso na cerca e morreu. Shin apoiou-se sobre o cadáver e conseguiu passar. "Não pude pensar no sofrimento de meu companheiro, tamanha era minha a alegria", disse ele sobre os primeiros momentos de liberdade.

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