Coreia do Norte busca negociar em posição de força

Reconhecido como ''nação nuclear'', país forçaria EUA a fazer concessões

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Por Luciana Alvarez
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Ao sentir-se vulnerável internamente, o governo norte-coreano, comandado por Kim Jong-il, responde com agressividade a seus "inimigos externos" - Coreia do Sul, Japão e todo o Ocidente, de maneira geral. Com o teste nuclear de ontem, Pyongyang demonstra o desejo de se afirmar como potência atômica para afastar possíveis interferências em um momento de transição no comando do país. "A questão da sucessão despertou o medo de que atores externos se aproveitem de um período de incerteza para desestabilizar a Coreia", afirmou ao Estado o pesquisador para estudos coreanos do Council on Foreign Relations, Scott Snyder. "O teste é uma resposta racional ao temor de interferência." Kim também deve usar as críticas de seus "inimigos" para capitalizar apoio dentro do país. "A hostilidade do exterior serve de arma para fortalecer seu controle", disse Snyder. No entanto, ainda que seja coerente com a lógica dos dirigentes norte-coreanos, o teste pegou a maioria dos governos mundiais de surpresa pela rapidez - apenas um mês após o anúncio de que estavam abandonando as negociações sobre desarmamento nuclear. "Duvido que algum governo esperasse um teste desse porte tão cedo. Por isso, no curto prazo, as reações não devem passar das tradicionais declarações de condenação", acredita o analista político Donald Kirk, autor do livro Korea Witness. Para Kirk, o teste pretende fazer com que os EUA reconheçam o país como um Estado nuclear e iniciar negociações bilaterais sob novo patamar. "A Coreia desprezou a negociação de seis partes (com EUA, Rússia, China, Japão e Coreia do Sul) e agora tenta forçar concessões dos americanos." Para o presidente Barack Obama, as opções ficam ainda mais limitadas depois que duas jornalistas americanas foram detidas na Coreia do Norte sob acusação de espionagem. Convencer a China, aliada de Pyongyang, a condenar o teste seria uma das medidas mais eficazes e menos desgastantes. "O problema é saber se a China está pronta para fazer a escolha estratégica de limitar as provocações norte-coreanas e melhorar a estabilidade regional, o que é de seu interesse no longo prazo", afirma Snyder.

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