Coréia do Norte pode estar longe de fazer um ataque nuclear

Especialistas põem em dúvida a capacidade técnica do país de carregar mísseis com explosivos nucleares

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Por Agencia Estado
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A Coréia do Norte pode ter a bomba. Mas as complexidades para desenvolver um míssil capaz de carregar o explosivo e os meios de lançá-lo sugerem que o país ainda está longe de representar uma ameaça atômica para o resto do mundo. O suposto sucesso do teste nuclear norte-coreano é alarmante não só por fazer a volátil nação comunista dar um passo importante rumo a um arsenal atômico, mas também demonstra sua determinação em não se intimidar pela pressão mundial para frear seu programa nuclear. Testando o dispositivo, a Coréia do Norte ignorou até mesmo a China, sua maior aliada, parceira econômica mais importante e a garantia de seu suprimento de petróleo. "É uma queda-de-braço, em relação ao modo rápido como o teste foi conduzido", disse em entrevista a Associated Press Alex Neill, chefe do programa asiático do Instituto Real de Serviços Unidos, uma consultoria britânica especializada em defesa e segurança. Segundo Neill, a expectativa era de que haveria um intervalo de 6 a 12 meses entre o anúncio da intenção de se fazer o teste e a explosão do dispositivo - fato que ocorreu nesta segunda-feira, menos de uma semana após Pyongyang anunciar que iria realizá-lo. Ainda assim, um teste é apenas isso - um experimento que precisa de anos de desenvolvimento até que se torne o produto final. Nesse caso, os produtos seriam armas nucleares capazes de ameaçar - e atingir - não só os vizinhos norte-coreanos como também inimigos como americanos, a milhares de quilômetros de distância. Dúvidas Há quem acredite que tanto a tecnologia nuclear quanto a de mísseis norte-coreanas careçam da sofisticação necessária para produzir um arsenal e os mecanismos para aplicá-lo. O poder da explosão parece sustentar essa tese. Depois do teste desta segunda, o ex-inspetor nuclear David Albright, presidente do Instituto de Ciência e Segurança Internacional baseado em Washington, especulou que a bomba usada teria uma potência de três a quatro vezes menor que as que destruíram Hiroshima e Nagasaki, na Segunda Guerra. Oficiais russos e sul-coreanos, confirmando indiretamente os comentários de Albright, disseram que medições sísmicas mostraram que a explosão fora "muito mais fraca" que aquelas que arrasaram as cidades japonesas. O tamanho também importa. Bombas-teste rudimentares podem ter o tamanho de pequenos caminhões, tirando qualquer possibilidade de serem carregadas como mísseis. Mesmo a bomba liberada de avião sobre Nagasaki pesava quase seis toneladas. "Eles podem transportá-la, colocá-la num navio de carga ou jogá-la de um avião de carga", disse o autor do livro Nuclear Showdown: North Korea Takes On the World (Revelação Nuclear: Coréia do Norte enfrenta o mundo, na tradução para o português), Gordon Chang. "A questão é: eles podem encolhê-la a ponto de caber num míssil? Eu acho que não". Especialista brasileiro O doutor em Física e mestre em Engenharia Nuclear brasileiro Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRj), concorda, em parte, com os especialistas internacionais. "Sabe-se que Coréia tem a bomba e o míssil, mas não sei se é capaz de acomodar a bomba no míssil", disse ele, que é professor de Planejamento Energético da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ. "Mas pode ser que as pesquisas para a compactação da arma venham ocorrendo paralelamente." A possibilidade de ataque por vias aéreas também é descartada pelo professor. "Os Estados Unidos e o Japão controlam muito bem seus espaços aéreos." Segundo Rosa, o teste subterrâneo norte-coreano pode ter ocorrido num poço semelhante ao encontrado na base aérea da Serra do Cachimbo (PA), durante o governo Sarney. "A área de testes brasileira fazia parte de um projeto militar, que prosseguiu na década de 1980", afirma o professor, que presidia à época a comissão de acompanhamento da questão nuclear brasileira da Sociedade Brasileira de Física. "O buraco tinha 320 metros de profundidade e cerca de 2 metros de diâmetro", diz Rosa. O material nuclear pode ser levado ao fundo do poço em uma espécie tonel, ligado a um sistema que permita a detonação da bomba. De acordo com o físico, a explosão ocorre por meio da reação entre um explosivo convencional, como TNT, e uma massa de partículas como plutônio ou urânio enriquecido.

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