
29 de fevereiro de 2012 | 20h57
Observadores e analistas classificaram de modesto, porém importante o recuo nuclear anunciado pela Coreia do Norte nesta quarta-feira.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o governo norte-coreano concordou em suspender o enriquecimento de urânio e os testes com mísseis de longo alcance, após negociações conduzidas por diplomatas americanos e coreanos na China.
Em troca, Pyongyang receberá 240 mil toneladas de "assistência nutricional" supervisionada, com possibilidade de ajuda alimentar.
O acordo, que foi confirmado pela imprensa oficial norte-coreana, abre a possibilidade da retomada de negociações - suspensas em 2009 - entre seis países, com vistas ao desarmamento.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que o recuo é "um primeiro passo modesto na direção correta" de desnuclearização da península coreana.
A opinião foi compartilhada pelo analista David Albright, do Institute for Science and International Security.
"É um passo modesto e um alívio ver que (Pyongyang) quer negociar", disse ele à BBC. "O mais importante é que eles concordaram com o fim do enriquecimento de urânio (que poderia ser usado para a construção de uma bomba atômica)."
Mas o anúncio desta quarta é visto com cautela pela Coreia do Sul. A correspondente da BBC em Seul, Lucy Williamson, lembra que acordos prévios foram descumpridos pelo regime norte-coreano.
Em 2005, o país havia concordado em desistir de suas ambições nucleares, em troca de concessões políticas e ajuda humanitária, mas o acordo naufragou em 2009.
Novo líder
O novo anúncio de suspensão nuclear ocorre apenas dois meses depois da posse de Kim Jong-un como líder máximo do país, após a morte de seu pai, Kim Jong-il, em dezembro.
Para alguns observadores, o acordo desta quarta pode ser visto como um sinal de abertura de um dos regimes mais reclusos do mundo. Para outros, é apenas uma mostra de que a empobrecida e isolada Coreia do Norte está desesperada por comida.
David Albright opina que, além disso, a iniciativa norte-coreana pode ser interpretada como uma tentativa do país em buscar uma relação com os Estados Unidos e não depender tanto da China - atualmente sua única aliada de peso.
Em artigo à BBC News, Aidan Foster-Carter, analista de Coreia do Norte da Universidade de Leeds (Grã-Bretanha), diz que as concessões anunciadas pela Coreia do Norte são significativas.
"Primeiro, o país concordou em moratórias nos testes de mísseis de longo alcance e armas nucleares. Isso é bem-vindo. Muitos temiam que Kim Jong-un marcasse o centenário de seu avô, o fundador do regime norte-coreano, com testes nucleares. Isso não deve mais acontecer", escreveu Foster-Carter.
Ele lembra também que Pyongyang concordou com inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), outro avanço importante. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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