Coréia do Norte volta à mesa de negociações

O diálogo se encontra estagnado desde novembro do ano passado, quando a Coréia do Norte decidiu boicotar a negociação em resposta às sanções impostas pelos EUA

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Coréia do Norte concordou em retornar às conversações multilaterais sobre seu programa nuclear, poucas semanas após realizar seu primeiro teste atômico, informaram nesta terça-feira os governos chinês e americano. O acordo foi obtido durante discussões em Pequim entre representantes de China, Coréia do Norte e EUA. O enviado americano, Christopher Hill, disse nesta terça-feira que as conversações poderão ser retomadas em novembro ou dezembro, mas destacou que deve levar tempo para se chegar a um acordo sobre o impasse nuclear. Hill disse que o governo norte-coreano reafirmou seu compromisso com um pacto preliminar alcançado em setembro do ano passado em Pequim durante as conversações entre seis países - Coréia do Norte, Coréia do Sul, Japão, China, Rússia e EUA. As conversações produziram um esboço de benefícios econômicos e garantias de segurança que a Coréia do Norte receberia em troca do fim de seu programa nuclear. Mas o diálogo foi interrompido em novembro quando a Coréia do Norte protestou contra o congelamento de suas contas em bancos de Macau como parte das sanções dos EUA. As futuras conversações deverão abordar as preocupações da Coréia do Norte com as restrições financeiras dos EUA, impostas, segundo Washington, para impedir a falsificação e lavagem de dinheiro por parte do governo de Pyongyang. O acordo firmado nesta segunda-feira representa uma vitória diplomática para a China, que mesmo após o teste nuclear norte-coreano do dia 9 e do teste de mísseis em julho foi contra sanções severas contra a Coréia do Norte e defendeu a manutenção do diálogo. Ele também representa um passo positivo dos EUA, que pressionaram pelo retorno ao diálogo, mas sem apresentar precondições. A China, um dos principais aliados, benfeitor e parceiro comercial da Coréia do Norte, vinha sendo pressionada pelos EUA para que usasse sua influência sobre Pyongyang. Apesar de a Coréia do Norte depender da ajuda e do petróleo chinês, Pyongyang vinha ignorando os pedidos de Pequim por contenção e testou sua bomba, estremecendo suas relações com seu vizinho do norte. Reações O presidente americano, George W. Bush, saudou a decisão de Pyongyang de retornar às conversações, mas acrescentou que enviará equipes à Ásia para garantir a aplicação das sanções aprovadas no dia 14 pelo Conselho de Segurança da ONU por causa do teste nuclear norte-coreano. A Rússia classificou a decisão de Pyongyang como "extremamente positiva". Um porta-voz do governo japonês, Yasuhisa Shiozaki, também saudou o acordo, dizendo que as conversações entre seis partes, que começaram a ser realizadas na China em agosto de 2003, são o melhor meio para se resolver o impasse. No entanto, evidenciando uma divisão dentro do governo japonês, o chanceler Taro Aso declarou que o Japão não pode aceitar que a Coréia do Norte retorne à mesa de negociações como um país com armas nucleares. Anteriormente, o chanceler fez algumas declarações polêmicas - como a de que o Japão deveria estudar a possibilidade de desenvolver um programa nuclear - e acabou sendo contrariado pelo governo japonês. Crise em evolução As negociações de seis partes encontram-se estagnadas desde que os EUA impuseram, em setembro de 2005, uma série de sanções financeiras contra Pyongyang. A ação motivou o boicote norte-coreano às conversas, suspensas desde novembro do ano passado. Iniciadas em 2003, as conversas tinham por objetivo encontrar uma solução para a crise nuclear norte-coreana. As discussões avançaram até setembro de 2005, mês em que a Coréia do Norte anunciou que congelaria suas atividades nucleares e voltaria ao Tratado de não-Proliferação Nuclear. Mas com a decisão dos Estados Unidos de reter cerca de US$ 24 milhões de fundos norte-coreanos, em resposta ao suposto envolvimento da Coréia do Norte no contrabando de armas e atividades financeiras ilegais, Pyongyang anunciou que se retiraria das negociações. Texto atualizado às 19h30

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