Coreia do Sul declara guerra às câmeras ocultas em banheiros públicos

Dispositivos escondidos registram imagens de mulheres que acabam em sites pornográficos; sul-coreanas criticam ação da polícia e dizem que acusados são tratados de maneira branda

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Por Tiffany May e Su-Hyun Lee
Atualização:

Por cantos escondidos em toda a Coreia do Sul, pequenas câmeras estão sorrateiramente gravando milhares de mulheres quando estão mais vulneráveis. As sul-coreanas temem que câmeras estejam em qualquer lugar: empoleiradas dentro do vaso sanitário de um banheiro público, disfarçadas como detectores de fumaça nos provadores de uma loja ou até em um saco plástico na borda de uma lata de lixo.

Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em seu gabinete: pressão das mulheres 

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Em Seul, a proliferação das câmeras escondidas -- e as imagens que muitas vezes acabam em sites pornográficos -- é descrita como uma epidemia. A cidade anunciou, na sexta-feira, 31, uma ação para combatê-las, aumentando o número de funcionários da prefeitura encarregados de revistar banheiros públicos em busca de câmeras. Hoje, são 50 pessoas. A partir de outubro, serão 8 mil nesta função. 

"É para ajudar os cidadãos a se sentirem seguros quando utilizarem banheiros públicos, livres de preocupações com câmeras espiãs", disse o governo de Seul, em comunicado. A cidade prometeu inspecionar cada um dos 20.554 banheiros públicos diariamente, um compromisso enorme que demonstra a amplitude do problema.

Mais de 30 mil casos de filmagens clandestinas foram reportados no país desde 2013, segundo estatísticas da polícia. E, a partir de outubro, a checagem serpa ampliada para banheiros em metrôs, parques, centros comunitários, academias públicas e galerias comerciais subterrâneas. Além disso, mil banheiros foram colocados em uma lista de "monitoramento especial", para que "guardas femininas possam fazer checagens intensivas", segundo o governo.

Muitas mulheres evitam ir aos banheiros sozinhas, especialmente durante a noite. "Eu nunca me senti segura ao ir a banheiros públicos desde que era estudante universitária", disse Choi Yoon-jeong, de 34 anos. "Eu não acho que as novas medidas serão eficazes porque encontrar e se livrar das câmeras escondidas em banheiros públicos não vai resolver o problema."

As tentativas anteriores do governo de localizar câmeras escondidas falharam. Atualmente, a maioria dos banheiros é inspecionada uma vez ao mês, e os inspetores municipais não descobriram qualquer dispositivo de gravação nos últimos dois anos. Os criminosos, segundo a polícia, frequentemente deixam os dispositivos em um local durante pouco tempo, por vezes por apenas 15 minutos.

O combate às "câmeras espiãs" acontece em meio à crescente pressão sobre o governo do presidente Moon Jae-in para tomar medidas de proteção às mulheres. Atos pelos direitos das sul-coreanas tomaram as ruas de Seul em maio e junho, reunindo milhares de manifestantes. As mulheres afirmam que as câmeras escondidas são apenas uma das muitas maneiras de assédio do século 21.

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Tais dispositivos de gravação também são o tema do chamado pornô de vingança, no qual imagens íntimas de mulheres são compartilhadas na internet por homens abandonados, ou de smartphones utilizadas para fotografar virilhas de mulheres que usam saia em locais públicos.

Muitas sul-coreanas estão pedindo punições mais severas para os assediadores, além da remoção das câmeras. Algumas dizem que a cultura masculina permeia a maneira como a polícia lida com tais crimes, frequentemente permitindo que homens não sejam acusados nos casos em que não há violência física. 

"É verdade que as investigações de nossas autoridades policiais têm sido um pouco frouxas, que as punições não foram muito severas, mesmo quando tais crimes foram expostos", disse o presidente Moon, acrescentando que as gravações ilegais devem ser consideradas um crime "sério".

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