Seul usa Olimpíada para se aproximar da Coreia do Norte 

Governo sul-coreano sugere que reunião poderia ser realizada no dia 9 para tratar de temas esportivos, mas também de assuntos políticos

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Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - Em um gesto para tentar retomar o diálogo com o regime da Coreia do Norte, o governo sul-coreano ofereceu nesta terça-feira, 2, realizar negociações com uma delegação norte-coreana na próxima semana. Oficialmente, o motivo do contato seria a participação de Pyongyang nos Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorrem na Coreia do Sul, a partir de 9 de fevereiro.

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A trégua seria a forma pela qual os negociadores tentam romper um impasse perigoso entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o governo dos EUA. O aceno dos sul-coreanos ocorreu um dia depois que Kim anunciou estar disposto a enviar atletas à Olimpíada de Pyeongchang. Segundo ele, os dois lados deveriam “se reunir de forma urgente para discutir a possibilidade”.

"Esperamos que o Sul e o Norte possam se sentar frente a frente para abordar a participação daCoreia do Nortenos Jogos de Pyeongchang", declarou o ministro sul-coreano de Unificação, Cho Myoung-gyon Foto: AP Photo/Ahn Young-joon

O governo sul-coreano reagiu imediatamente, indicando que via a declaração como uma oportunidade para romper o impasse diplomático. Em 2017, Seul pediu encontros em duas oportunidades, ambas recusadas por Kim, que continuou a fazer testes de mísseis. 

Na prática, um encontro na semana que vem teria de tratar do trajeto que os atletas norte-coreanos teriam de fazer até a Coreia do Sul, da autorização para a viagem de torcedores, técnicos e familiares. A Olimpíada será numa região que fica apenas 80 quilômetros de uma das fronteiras mais militarizadas do mundo.

O ministro sul-coreano para a Unificação, Cho Myoung-gyon, sugeriu um encontro no dia 9, em Panmunjom. Foi ali que, em dezembro de 2015, os dois governos se reuniram pela última vez. “Esperamos discutir a participação de uma delegação da Coreia do Norte, assim como outros assuntos de interesse mútuo”, disse. 

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A tensão fez com que milhares de entradas para a Olimpíada ficassem encalhadas, principalmente diante da dificuldade de atrair estrangeiros. Os norte-coreanos já participaram de oito Jogos de Inverno, acumulando duas medalhas. Para 2018, a delegação não passaria de uma dupla de patinação. Nos bastidores, porém, delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI) disseram ao Estado que pouco importa neste momento o desempenho esportivo dos norte-coreanos. 

Nuclear

A Coreia do Sul indicou que o encontro, além de temas esportivos, teria de tratar também do programa nuclear de Kim. Em Lausanne, a esperança é a de que o evento seja uma “desculpa” para que os dois lados voltem a manter um diálogo depois de tensos meses e de ameaças mútuas. 

Os gestos têm sido acompanhados pelos EUA e pela ONU. Numa reação cautelosa, Trump disse em suas redes sociais que “sanções e outras pressões começam a ter um grande impacto na Coreia do Norte”. “Soldados estão fugindo perigosamente para a Coreia do Sul. O ‘homem-foguete’ agora quer conversar com a Coreia do Sul pela primeira vez. Talvez seja uma boa noticia. Talvez não. Veremos”, escreveu o americano no Twitter. 

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Kim, em sua mensagem de ano novo, deixou claro que a Olimpíada seria uma “boa oportunidade para mostrar o status da nação coreana”. “Estamos preparados para tomar vários passos, incluindo enviar uma delegação.”

No Sul, o presidente Moon Jae-in vem insistindo aos delegados do COI de que uma participação da Coreia do Norte no evento seria uma forma de reduzir as tensões e restabelecer um canal de comunicação. "Essa é uma oportunidade para a paz", disse. O presidente sul-coreano chegou a sugerir que exercícios militares com os americanos na região fossem adiados para depois dos Jogos, como forma de boa-fé em relação a Kim. 

Analistas interpretam o gesto do norte-coreano como uma tentativa de traçar uma linha entre Trump e a Coreia do Sul, deixando claro que sua rivalidade é com o americano. A Casa Branca insiste que todas as opções, inclusive a militar, estão sobre a mesa. Kim, de seu lado, deixou claro que o botão para um lançamento de uma arma nuclear estaria sobre sua mesa.

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