Correa faz esforço final para evitar virada da oposição

Em tentativa de manter seu grupo no poder, presidente inaugura obras, rebate denúncias e defende seu candidato, Lenín Moreno

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Por Luiz Raatz
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A campanha do segundo turno no Equador entra na reta final nesta semana com o presidente Rafael Correa assumindo protagonismo na campanha de seu candidato, Lenín Moreno, contra o conservador Guillermo Lasso. O presidente, que deve deixar o poder após dez anos, apostou em inaugurações de obras públicas e na vinculação de Lasso à crise financeira de 1999. Ligeiramente à frente nas pesquisas, o governista aceitou debater hoje com o opositor, em um encontro que pode ser decisivo. 

Desde o início do ano, o presidente equatoriano já inaugurou 18 hospitais, o carro-chefe de seu programa de investimentos públicos, a um custo de US$ 187 milhões. Em meio a acusações de corrupção que podem resvalar no candidato a vice-presidente, Jorge Glas, em virtude do escândalo da Odebrecht, Correa tomou para si a tarefa de atacar Lasso.

Rafael Correa abraça seu candidatoLenin Moreno Foto: REUTERS/Mariana Bazo

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Os casos de corrupção da empreiteira brasileira têm sido investigados no Equador e em outros países da região. A oposição equatoriana tem cobrado que seja divulgada a lista de autoridades suspeitas de envolvimento em troca de contratos públicos por propina. 

Nas redes sociais e nos canais de comunicação estatais, Correa reforçou a imagem de Lasso como banqueiro e um dos responsáveis pela crise de 1999. Na ocasião, os maiores bancos do país quebraram e os equatorianos ficaram proibidos de acessar suas contas e economias por dias, no episódio conhecido no país como “feriado bancário”. À época, Lasso era ministro da Economia do então presidente Jamil Mahuad. 

“Agora eles falam em emprego e justiça. É proibido esquecer o feriado bancário”, disse Correa em sua conta no Twitter em uma publicação recente. “Falam de corrupção, mas Lasso tem milhões em paraísos fiscais.” Para analistas, a estratégia de vincular Lasso à crise de 99 é eficiente, acima de tudo, pelo impacto que a recessão teve na vida dos equatorianos. Mais de 1,5 milhão de pessoas emigraram do país. A economia ficou em frangalhos e o governo teve de abrir mão da própria moeda para controlar a inflação, adotando o dólar americano em seu lugar.

Guerra. “Foi uma campanha eleitoral bastante diferente do primeiro turno, marcada por uma tendência suja e negativa, na qual os dois lados se acusaram mutuamente de corrupção. Outra característica importante foi a participação de Correa, principalmente vinculando Lasso ao feriado bancário – uma estratégia que se provou eficiente em 2013 e agora o presidente aposta nela outra vez”, disse ao Estado o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso). 

Para o cientista político Adrian Bonilla, também da Flacso, o protagonismo de Correa no segundo turno deve fazer com que a votação ganhe contornos de um referendo sobre os dez anos do presidente no poder no Equador.

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“Correa é a figura política mais forte do país nos últimos anos e sua participação na campanha terá impacto na votação”, disse. “É possível que o segundo turno, mais que ideias e programas, se defina pela aprovação ou aversão a ele.”

Dados do instituto de pesquisa Cedatos divulgados na última semana indicam que 52% dos equatorianos desaprovam a gestão de Correa. Apesar disso, 52,4% dos eleitores pretende votar em Moreno no domingo que vem, segundo o mesmo levantamento. Lasso tem 47,6% das intenções de voto. Ainda de acordo com a pesquisa, 16% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar. 

Táticas. Enquanto Correa capitaneou os ataques a Lasso, Moreno aproveitou o foco do presidente na inauguração de hospitais e maternidades para focar sua principal proposta no segundo turno na saúde. O programa Toda Uma Vida tem como objetivo oferecer cobertura de seguro-saúde universal aos equatorianos – e tem um custo estimado de US$ 8 bilhões, um gasto oneroso, ainda que previsto no orçamento do país, golpeado pela queda recente no preço do petróleo. 

Outro programa é um projeto similar ao brasileiro Minha Casa, Minha vida, que prevê a construção de moradias para pessoas de baixa renda. 

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Lasso, por sua vez, aposta na promessa de desburocratização do Estado para ampliar investimentos no setor privado para recuperar a economia, que terminou 2016 com uma contração de 1,7% do PIB. O opositor também pretende desmontar o aparato de comunicação pública de Correa, que reúne canais de televisão, rádio e jornais. 

Ambas as visões serão confrontadas hoje à noite em um debate no qual Lasso e Moreno estarão frente à frente. O candidato do governo vinha hesitando em aceitar o encontro, mas se dispôs a fazê-lo na última semana, diante do convite de um sindicato de professores simpático à sua candidatura. Lasso, apesar do ambiente a princípio hostil, também aceitou. 

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