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Correa inicia 2º mandato em meio a crise regional

Presidente equatoriano estabiliza uma das democracias mais frágeis da América do Sul, mas estilo conflitivo fez crescer atritos com vizinhos

Por João Paulo Charleaux
Atualização:

O presidente equatoriano, Rafael Correa, inaugura hoje um novo mandato de quatro anos com a promessa de "radicalizar" seu modelo de "socialismo do século 21", inspirado no exemplo de seu colega venezuelano Hugo Chávez. Antecedido por três presidentes que não conseguiram concluir seus mandatos, Correa pôs fim a dez anos de deposições, instabilidade, revoltas indígenas e desencanto com a democracia no Equador. Mas, ao mesmo tempo, o presidente - que faz parte do bloco de países bolivarianos - reformou a Carta do país buscando o direito à reeleição, deu um calote na dívida externa e suspendeu contratos com empresas estrangeiras nas áreas de infraestrutura e energia, criando um ambiente de incerteza para novos investimentos. Em 2005, um ano antes de Correa assumir a presidência, apenas 43% dos equatorianos apoiavam a democracia, segundo o instituto Latinobarometro. Com sua ascensão, o índice subiu para 54% e, no fim do primeiro ano de mandato, atingiu 65%. "Foi um fenômeno único na região", disse ao Estado a diretora do Latinobarometro, Marta Lagos. "O primeiro mandato de Correa marcou as pazes entre os equatorianos e a democracia, depois de uma década absolutamente turbulenta no país." Mas o modelo socialista da nova Carta e as ameaças contra a imprensa fizeram com que a confiança dos equatorianos em sua democracia voltasse a balançar. Em 2008, este índice desceu a 56%, enquanto a popularidade do presidente caiu de 90% para 40% em 16 meses. Segundo Marta, a oscilação reflete um fenômeno de "esperança e desilusão" dos eleitores com Correa. "O presidente pode ter perdido parte do avanço democrático construído durante o início do governo", disse o cientista político Franklin Ramírez, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). "A Constituinte (que durou de novembro de 2007 a agosto de 2008) trouxe a esperança de uma reforma política profunda, mas, depois disso, Correa instituiu um congressinho (com apenas 130 deputados), que funciona até agora cheio de privilégios, sem fiscalização e sob muitas suspeitas." O mesmo discurso nacionalista de Correa que favoreceu a estabilidade interna do Equador teve o efeito oposto nas relações internacionais. Com uma retórica bolivariana e anti-EUA, em apenas três anos ele pregou a extinção da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), expulsou diplomatas americanos de Quito e ameaçou declarar guerra à vizinha Colômbia. Os atritos com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tiveram início em março de 2008, depois de Bogotá ordenar um ataque contra um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano. No mês passado, Correa foi acusado por Uribe de receber doações financeiras das Farc para sua campanha. Desde então, o líder equatoriano uniu-se com Venezuela e Bolívia numa cruzada aberta contra o uso de bases colombianas por tropas do EUA. "Correa é um líder nacionalista que aposta numa diplomacia presidencialista, personalista e de alta visibilidade", disse Ramírez. "Esse, certamente, será um dos maiores empecilhos para o sucesso do seu próximo mandato."

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