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Correa mantém expulsão da Odebrecht

Declaração acaba com a expectativa de que o presidente equatoriano adotaria tom conciliador após referendo

Por Denise Chrispim Marin e MANAUS
Atualização:

O presidente do Equador, Rafael Correa, não recuou um milímetro em sua decisão de expulsar a construtora Norberto Odebrecht de seu país ao conversar reservadamente, ontem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à imprensa, ao final do encontro bilateral, Correa afirmou que os executivos da Odebrecht erraram ao imaginar que o Equador poderia regatear sua soberania ou até mesmo aceitar suas "pressões, violações e propinas". O tom nada diplomático de Correa desmontou a expectativa do Palácio do Planalto e do Itamaraty de que, passado o referendo sobre a nova Constituição do país, aprovada com ampla maioria no domingo, o governo equatoriano adotaria uma posição mais conciliadora sobre o impasse com a Odebrecht. Na quinta-feira, em Nova York, o próprio presidente Lula havia atribuído ao ambiente eleitoral a intransigência de Correa em relação à companhia brasileira. "Em princípio, não vamos revogar nada. Mas veremos os novos elementos que estão na carta por meio da qual a Odebrecht aceitou todas as condições do governo equatoriano", afirmou Correa. "Em princípio, a Odebrecht está fora do país." Correa decretou o embargo dos bens da Odebrecht no dia 23, apenas cinco dias antes do referendo, sob a alegação de que a empresa não havia pago a indenização por graves danos estruturais na Hidrelétrica de San Francisco e por suspeita de prática de corrupção. Na ocasião, Correa afirmou que as obras da companhia brasileira no Equador teriam sido concluídas com "um terço da capacidade e com o triplo do custo". A empresa também teve suas obras no Equador ocupadas por forças militares e quatro de seus executivos foram proibidos de deixar o país. A Odebrecht está presente no Equador há 23 anos. Na véspera do referendo, Correa brandiu um documento que, supostamente, seria a carta na qual a Odebrecht teria acatado pagar indenização de US$ 43 milhões ao governo, além de US$ 200 mil por dia de inatividade da usina. Mas a empresa negou ter enviado tal correspondência. Em sua argumentação, Correa afirmou que seu governo exigiu da Odebrecht apenas o respeito aos princípios e à Justiça e o cumprimento dos direitos do país. Insinuou que a empresa agiu segundo critérios que costuma adotar com outros governos e insistiu que, do começo ao fim, seu governo não mudou suas exigências. Ao contrário da versão propagada pelo próprio Itamaraty, segundo a qual havia uma negociação entre o governo equatoriano e a empresa, intermediada pela embaixada do Brasil em Quito, Correa disse que, em nenhum momento, houve conversas sobre um possível acordo. "Os executivos da Odebrecht equivocaram-se ao acreditarem que o governo equatoriano estava negociando com eles. Não estamos negociando com eles. Estamos exigindo nossos direitos", afirmou Correa. "Eles acreditaram que, com violações, pressões e talvez com propinas obrigariam o governo equatoriano a desrespeitar os direitos, a dignidade e a soberania do país. Não entenderam que em 15 de janeiro de 2007 o país votou. Tiveram a resposta conveniente", completou, referindo-se à data de sua eleição para a presidência.

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