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Correa promete acelerar ''revolução''

Apesar da reeleição, socialismo do presidente esbarra na crise global

Por AP e AFP E EFE
Atualização:

Um dia após ser reeleito, o presidente equatoriano, Rafael Correa, prometeu aprofundar sua "revolução cidadã" e levar o Equador mais rapidamente "rumo ao socialismo do século 21". "Os resultados nos favoreceram amplamente e isso nos dá um grande apoio político para fazer mudanças de forma mais radical e acelerada", disse Correa. "Estamos caminhando rumo ao socialismo do século 21." No domingo, os equatorianos votaram para todos os cargos eletivos do país. Com 70% das urnas apuradas, Correa tinha, no início da noite de ontem, 51,7% dos votos na corrida pela presidência, seguido de longe pelo ex-presidente Lúcio Gutiérrez, com 28%. Segundo pesquisas de boca de urna, seu partido, o Aliança País, também obteve a maioria do novo Congresso e as prefeituras das cidades de Quito e Guayaquil, as duas mais importantes do país. A contagem oficial de votos para os cargos do Legislativo e dos governos locais, porém, ainda pode demorar. Com a vitória, Correa torna-se o primeiro presidente equatoriano eleito em primeiro turno nos últimos 30 anos. Pelas regras do país, uma segunda votação só seria realizada se ele não obtivesse a maioria absoluta ou 40% dos votos com uma margem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. Correa, contudo, terá pouco tempo para saborear a vitória. Seu desafio principal será garantir a sobrevivência dos amplos programas sociais que o tornaram popular em meio à crise econômica mundial e à baixa dos preços do petróleo. Economista formado na Bélgica e nos EUA, Correa assumiu o poder pela primeira vez em janeiro de 2007 prometendo livrar o Equador de uma classe política corrupta que, por décadas, desviou as riquezas do petróleo. Agora, ele terá mais quatro anos à frente de um governo cujas receitas estão bastante comprometidas - 40% do orçamento depende dos hidrocarbonetos. DIFICULDADES As receitas petrolíferas do Equador tiveram 67% de redução no primeiro trimestre. Além disso, as remessas feitas ao país por equatorianos que vivem no exterior caíram cinco vezes. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia equatoriana encolherá 2% este ano. "O pior já passou, mas naturalmente há uma grande incerteza (no Equador) e ainda pode ocorrer algo", admitiu Correa ontem, ao comentar os efeitos da crise global em seu país. As eleições de domingo foram realizadas nos termos da nova Constituição, aprovada em referendo em setembro. Além de dar a Correa um controle maior sobre setores-chave da economia e sobre o Banco Central equatoriano, a Carta permite que ele se reeleja mais uma vez em 2013. Correa culpa as "falhas estruturais" do capitalismo pela crise econômica atual. O presidente, no entanto, afastou investimentos estrangeiros ao tomar medidas como a moratória de parte da dívida externa e a renegociação de contratos com companhias petrolíferas. Correa também aumentou drasticamente os impostos sobre importações, tirando alguns produtos do alcance de muitos consumidores equatorianos. Simultaneamente, o presidente diz manter um firme compromisso com os pobres. Nos últimos dois anos, por exemplo, ele triplicou os gastos do Estado nos setores de educação e saúde e dobrou o valor da bolsa-auxílio concedida a mães solteiras. Para o analista Michael Shifter, do centro de estudos Diálogo Americano, com sede em Washington, Correa inflou as expectativas dos equatorianos, mas agora, com o peso de uma forte restrição orçamentária, a capacidade de atendê-las será testada. "Seu governo não terá outra opção além de recorrer às mesmas instituições financeiras internacionais que foram alvo de seus ataques nos últimos anos", diz Shifter, lembrando o episódio em que o representante do Banco Mundial foi expulso do Equador.

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