Corrupção derruba prefeitos de duas cidades do Canadá

Polícia e comissão de inquérito investigam relação entre prefeituras, construtoras e até a máfia italiana

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Por HECTOR VILAR e MONTREAL
Atualização:

Nesta semana, em apenas cinco dias, Montreal e Laval, duas das três maiores cidades da Província de Québec, no Canadá, viveram a mesma situação: seus prefeitos renunciaram a seus cargos. Gérald Tremblay, em Montreal, e Gilles Vaillancourt, em Laval, não resistiram aos vários casos de corrupção, formação de quadrilha e até de ligações com a máfia italiana. Na sexta-feira, Vaillancourt, prefeito de Laval desde 1989, deixou o cargo e abandonou definitivamente a vida pública dizendo que "vivemos em uma época em que alegações sem provas mancham a reputação dos eleitos". Durante longo discurso feito em francês e em inglês, Vaillancourt não rebateu nenhuma acusação e preferiu dizer o quanto a cidade havia crescido durante seus mandatos. O prefeito deixou a sala em que anunciou sua renúncia sem falar com a imprensa.Laval, que fica ao norte de Montreal, estava há tempos na mira da Unidade Permanente Anticorrupção (Upac) da polícia de Québec. Desde o início de outubro, seus agentes haviam baixado mais de uma dezena de vezes na sede da prefeitura, em várias empresas de construção e na casa do próprio prefeito. Até os cofres-fortes que Vaillancourt mantêm com sua mulher em um banco foram abertos. Por enquanto, a polícia não acusou o prefeito de Laval de nenhum crime e a investigação continua. No entanto, em razão da pressão exercida pelo governo provincial, pela polícia e pela população, a administração de Laval já havia anunciado, no dia 5, que nenhum novo contrato para a construção de calçadas, esgotos e aquedutos seria assinado. A polícia investiga, principalmente, a ligação que existe entre empresas de construção e governos municipais no Canadá. Até uma comissão de inquérito foi criada, em outubro, para analisar a atribuição de contratos de construção em toda a província nos últimos 15 anos - a chamada Comissão Charbonneau, presidida pela juíza France Charbonneau. Com depoimentos ricos em detalhes, alguns ex-engenheiros de Montreal afirmaram ter recebido mais de US$ 500 mil em propina. A Comissão Charbonneau virou sucesso na TV e os quebequenses a assistem como se fosse uma novela. Os programas são acompanhados ao vivo por centenas de milhares de pessoas em todo país.Depoimentos. A primeira vítima da Comissão Charbonneau foi Gérald Tremblay, prefeito de Montreal, a maior e mais importante cidade da província. Na semana passada, ele anunciou que deixaria o cargo que ocupava havia 11 anos e se retirava definitivamente da vida pública.Tremblay não resistiu a dois depoimentos da Comissão Charbonneau. No primeiro, Lino Zambito, ex-dono de construtora, afirmou sob juramento que o partido do prefeito, a União Montreal, recebia em propina 2,5% do valor dos contratos de construção. Além disso, Zambito contou que, para conseguir contratos em Montreal, sua empresa tinha de pagar, em dinheiro, 3% do valor ganho para a máfia italiana que atua na cidade.Semanas depois, na mesma comissão, Martin Dumont, seu ex-conselheiro e organizador político, afirmou que Tremblay sabia da existência de um caixa dois alimentado com dinheiro recebido das construtoras.Para o espanto de todos da comissão, Dumont contou que, em uma eleição realizada em 2004, o cofre-forte da sede do partido estava tão cheio de dinheiro que a porta mal fechava.

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