Cresce pressão contra líder republicano no Senado

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Por Agencia Estado
Atualização:

Trent Lott, o líder da recém-reconquistada maioria republicana no Senado dos EUA, estava hoje sob intensa pressão para deixar o posto, em meio a uma controvérsia que ele mesmo iniciou, duas semanas atrás, ao mostrar-se nostálgico em relação ao passado de segregação racial de seu Estado, o Mississippi, e do sul do país. Cinco senadores republicanos prontificaram-se hoje a pedir uma reunião da bancada do partido no Senado para decidir se Lott deve continuar como líder - e no terceiro posto da linha sucessória, depois do vice-presidente e do presidente da Câmara. "Trent enfraqueceu-se ao ponto em que pode prejudicar sua capacidade de levar adiante nossa agenda e falar a todos os americanos", afirmou o vice-líder Don Nickles, de Oklahoma, obviamente interessado na vaga. Em sua segunda manifestação sobre o caso, a Casa Branca distanciou-se ainda mais de Lott, mas deixou de indicar claramente se quer sua saída. A razão é que Lott já disse que, se for obrigado a deixar o posto de líder da maioria, ele deixará também o Senado. Como o atual governador de Mississippi é democrata e caberia a ele indicar o ocupante de uma eventual vaga aberta por Lott no Senado até a eleição de 2004, a maioria de 51 cadeiras a 49 que os republicanos teriam no próximo Congresso encolheria para uma paridade, com a diferença garantida apenas pelo voto de desempate do vice-presidente Dick Cheney, que é, constitucionalmente, o presidente do Senado. Lott cavou sua própria cova política durante a cerimônia do centésimo aniversário do senador Strom Thurmond, republicano da Carolina do Sul. Em 1948, quando era um governador democrata, Thurmond concorreu à Casa Branca como dissidente, à frente de uma chapa segregacionista, depois de romper com o partido por causa de um moderadíssimo plano de promoção dos direitos civis apresentado pelo presidente Harry Truman, que disputava a reeleição. Thurmond venceu a votação popular em Mississippi e em três outros Estados sulistas. "Quero dizer o seguinte sobre meu Estado", disse Lott na festa para Thurmond. "Quando Strom Thurmond concorreu a presidente, nós votamos por ele. Temos orgulho disso. E se o resto do país tivesse nos seguido, não teríamos tido todos esses problemas que tivemos ao longo dos anos." Aquilo que ele chamou de "problema" foi, obviamente, a histórica luta que os negros americanos e seu aliados de outras etnias travaram contra a política de discriminação racial nos EUA, depois da 2ª Guerra Mundial. Diante dos protestos dos democratas e dos líderes do movimento dos direitos civis para que Lott renunciasse, ele pediu desculpas e pediu socorro ao secretário de Estado, Colin Powell, e à conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, ambos negros. Em lugar do apoio que buscava da administração, o líder republicano ouviu o próprio presidente George W. Bush denunciar publicamente seu comportamento. "Comentários recentes feitos pelo senador Lott não refletem o espírito de nosso país", disse Bush, a uma platéia quase que só de negros, na Filadélfia. A Casa Branca não quis pronunciar-se hoje sobre a proposta dos senadores republicanos que querem nova eleição para escolher o líder, o que deverá ocorrer em 6 de janeiro próximo. Mas o porta-voz Ari Fleischer disse que o apoio manifestado por Lott à campanha segregacionista de Thurmond, em 1949, era "ofensivo e repugnante". Com sua sobrevivência política em jogo, o senador programou uma entrevista de uma hora a uma rede TV a cabo voltada para o público negro, em mais uma tentativa para permanecer no cargo. A revisão da biografia política do senador, provocada pela controvérsia, não ajuda sua causa. A grande imprensa americana tratou de lembrar, nos últimos dias, que Lott votou contra a expansão dos direitos civis, nos anos 70 e 80, e contra uma legislação que permitiria à polícia monitorar suspeitos de crimes que envolvem ódio racial. Lott tampouco apoiou a criação de um feriado nacional em memória do reverendo Martin Luther King, o mártir dos direitos civis nos EUA. Jornais, revistas e emissoras de televisão lembraram também a associação de Lott com a Revista Partidária do Sul e com o Conselho dos Cidadãos Conservadores, um grupo integrado por brancos que se dedica à preservação das "tradições" sulistas.

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