
31 de dezembro de 2010 | 00h00
Centenas de pessoas foram ontem às ruas de La Paz para exigir que o presidente Evo Morales revogue o aumento de até 83% dos combustíveis, decretado no domingo. Pressionado, o governo tentou conter a revolta popular, na quarta-feira, aumentando em 20% os salários dos trabalhadores de setores importantes da economia, como educação, saúde e segurança. Além disso, deu incentivos para a produção agrícola. A estratégia, porém, parece não ter dado resultado.
O reajuste dos combustíveis, batizado de "gasolinazo", elevou imediatamente os preços dos transportes e de alimentos importantes, como o pão, que ficou 87% mais caro.
Evo afirmou que o aumento - a gasolina subiu 73%, o diesel 83% e o querosene de aviação 99% - era o "fim de um subsídio neoliberal que causava corrupção e perdas para o país". "Com esta medida, não cuido da minha imagem, mas da economia nacional", disse.
Os preços dos combustíveis estavam congelados há seis anos e consumiam cerca de US$ 380 milhões por ano, ou cerca de 2% do PIB boliviano. De acordo com o presidente, a quantia economizada servirá para "incentivar a produção interna".
A decisão causou uma corrida aos bancos para a retirada de dinheiro durante a semana, o que levou o governo a descartar publicamente qualquer hipótese de congelamento bancário no país. "Não haverá qualquer confisco bancário", garantiu o presidente.
Evo disse ainda que assumirá os custos políticos da medida e tentou amenizar a situação anunciando o congelamento das tarifas de gás, água, eletricidade e telefonia. Mesmo assim, organizações sindicais, que eram aliadas do presidente, se juntaram a uma greve dos transportes públicos e realizaram bloqueios nas ruas da capital e da cidade de El Alto, que ficaram completamente paralisadas.
Socorro paraguaio. Ontem, o presidente boliviano afirmou que convidará especialistas da equipe econômica do presidente paraguaio, Fernando Lugo, para orientá-lo a respeito do aumento nos combustíveis.
Em mais um pronunciamento à nação, Evo destacou a política econômica do Paraguai, que este ano cresceu mais de 9%. "Humildemente, convidarei seus especialistas (de Lugo) e técnicos para que me orientem sobre como produzir alimentos para 60 milhões de pessoas", afirmou. / REUTERS E AP
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