Cresce tensão entre Moscou e UE

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Por Gilles Lapouge
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A temporada festiva não melhorou o humor da Rússia. O Kremlin acaba de anunciar que a Organização para a Segurança e Cooperação Européia (OSCE) deverá retirar seus observadores da Geórgia a partir de quinta-feira. Essa decisão deve ser lida como um seguimento, e um seguimento desagradável, da prova de força que opôs, no último verão (no Hemisfério Norte), a Rússia e a Geórgia, quando tropas russas penetraram nas duas províncias separatistas da Geórgia, a Abkázia e a Ossétia do Sul. No momento dos tumultos do verão, os Estados Unidos não se mexeram. Os países europeus viraram o rosto para outro lado. A chance foi que o presidente semestral da União Européia era Nicolas Sarkozy, da França. Sarkozy saltou imediatamente num avião, envolveu-se no caso, remexeu céus e terras, aí incluídos o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e o presidente russo, Dmitri Medvedev, e impediu o início do incêndio. Boa jogada! Ele arrancou um acordo de paz de Medvedev e assinou um acordo que previa, em particular, que 28 observadores da OSCE supervisionariam o respeito ao cessar-fogo. Agora, o Kremlin não quer mais esses observadores e já pediu para que façam as malas. É, pois, toda uma parte, e muito importante, do plano de paz Medvedev/Sarkozy que desmorona. A intenção de Moscou é clara: a Rússia vai fazer reconhecer de fato a independência da Ossétia do Sul. Uma segunda explicação é apresentada pelo ministro georgiano Temur Iakobachvili: "A Rússia não quer mais a OSCE porque quer dissimular os crimes de guerra que cometeu na região." O cientista político georgiano Alexandre Rodeli acrescenta: "A Rússia poderá prosseguir tranqüilamente na limpeza étnica." Sarkozy estava muito contente quando voltou da Geórgia. Ele tivera um contato excelente com Medvedev. Chegou a parecer, durante um tempo, que ele queria se aproximar da Rússia. A expulsão dos funcionários da OSCE por Moscou não é um bom augúrio. Reencontra-se nesse episódio uma constante da Rússia de Putin: ela não agüenta mais que os ocidentais, os europeus, os chefes de Estado ou instituições como a OSCE façam continuamente seu julgamento moral e lhe ordenem que respeite os direitos humanos. Não se pode fazer nada sem que ministros ou funcionários, por exemplo, os da OSCE, censurem. Então, o mais simples é pedir a esses funcionários que vão exercer seu nobre ofício em outra freguesia. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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