Crescimento e programas sociais dão favoritismo a Morales na Bolívia

Presidente boliviano concorre à reeleição neste domingo e lidera pesquisas.

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Por Marcia Carmo
Atualização:

O favoritismo do presidente da Bolívia, Evo Morales, para vencer as eleições presidenciais deste domingo é atribuído ao crescimento da economia, aos programas sociais e ao seu estilo de governar, isolando seus adversários políticos. Os quatro anos de governo de Morales foram marcados por um período de expansão da economia, influenciada pelos altos preços das commodities no mercado internacional. A Bolívia exporta gás, soja e minério. Para o economista Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA, na sigla em espanhol), as commodities financiaram os planos sociais. Ao mesmo tempo, o governo manteve uma estabilidade econômica sem grandes mudanças. "Foi uma estabilidade econômica baseada no controle remoto. Mas o governo Evo também conta com estabilidade política pelo forte apoio popular ao presidente. Não víamos esta estabilidade política desde o fim dos anos 90", disse Gómez à BBC Brasil. A economia boliviana cresceu 6% em 2008. Neste ano, porém, com a queda nos preços das commodities no mercado internacional, o crescimento deverá ficar em 3%. O mesmo é esperado para 2010. "O governo ainda tem respaldo fiscal para um 2010 tranquilo. O problema é que não se aproveitou a etapa da bonança para melhorar o perfil produtivo. A Bolívia continua dependente das commodities", afirmou o economista. Estilo Neste país de cerca de 10 milhões de habitantes, 60% declaram-se indígenas e muitos deles, a partir de suas raízes culturais, aprovam o estilo de Morales de "enfrentar" o "inimigo" político. "Nenhum presidente teve a coragem que ele tem de enfrentar nossos problemas, de defender o que é nosso. É um valente", disse o taxista Genaro Mauricio Plata, de La Paz. A vendedora de frutas Carmen Pinto, da mesma cidade, disse que votará em Evo Morales porque "ele é o primeiro a se preocupar" com os pobres. Ela recebe um dos planos sociais de Morales, o Juancito Pinto, similar ao Bolsa Família, para que os dois filhos freqüentem a escola. Pesquisas de opinião indicam que o líder boliviano tem hoje 60% de apoio popular e venceria neste domingo, no primeiro turno, com diferença de cerca de 30% sobre seu principal adversário, Manfred Reyes Villa. O opositor passou a ser, para seguidores do presidente, o símbolo do neoliberalismo e dos males vividos no país. Evo Morales disse que ele irá preso, por atos de corrupção, após a eleição. O analista político José Luis Galvez, do instituto Equipos Mori, disse à BBC Brasil que Evo Morales conseguiu instalar no imaginário popular a ideia de que existem dois modelos de governar. "O dele, que representa a mudança, e o outro, que é o neoliberalismo e castigou o país", afirmou. Nos seus discursos, Evo Morales enfatiza que esse "modelo que afundou" a Bolívia não pode ser reinstalado no país. Expectativa A expectativa é que Evo repita neste domingo votação similar a que teve em 2005, quando foi eleito com pouco mais de 50% dos votos, incluindo as comunidades indígenas e a classe média. "Hoje os companheiros da classe media dizem: é um índio, mas que sabe se fazer respeitar", afirmou Evo Morales em sua campanha. O primeiro mandato do presidente boliviano também foi marcado por turbulências políticas - tradicionais na história do país. A disputa entre os departamentos da chamada "Meia Lua" (Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando), onde Morales goza de menos popularidade, e os do Altiplano (liderados por La Paz) deixou mortos e feridos e forte rejeição a Morales em algumas regiões. No entanto, com a oposição debilitada e a ausência de conflitos no momento, pesquisas indicam que ele também teria boa aprovação onde antes era rejeitado. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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