Crianças são vendidas como escravas na África

Hoje, navios vagando sobre as águas do Atlântico carregam crianças-escravas, ajuntadas em Benin por 100 a 200 francos franceses e revendidas dez vezes mais caro.

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Por Agencia Estado
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São numerosos os "barcos ébrios" que vagam sobre os oceanos e os mares há 2.000 anos. "Houve "barcos negros" de piratas no Caribe, navios-traficantes em todas as épocas e em todos os mares e, mais recentemente, os "boat people", que vão errando de porto em porto, de morte em morte, com seus carregamentos de vietnamitas, de albaneses, de cubanos, de marroquinos. Hoje, está vagando sobre as águas do Atlântico, na África, uma nova, e talvez a mais ignóbil, variedade de "barco ébrio"; um navio carregado de crianças, de crianças-escravas, ajuntadas aqui e ali, colocadas à venda por um dos raros países ricos da região, o Gabão, país produtor de petróleo. Este navio, com suas crianças-escravas (quantas? - Ninguém sabe se são 250 ou 150 porque esse tipo de carga não é registrado em parte alguma) partiu de Cotonou, em Benin (triste constância da história: Benin, com sua "Costa dos Escravos", foi o ponto alto das infâmias dos navios negreiros no século 17 e 18). Portanto, no dia 30 de março, as crianças foram "carregadas" em um barco em Cotonou. Um barco? Mais ou menos. Uma embarcação igual a todos esses "caixotes de lixo" que fazem cabotagem de porto em porto na África, à mercê do primeiro que arrematar a sua carga. Quanto à acomodação desses pequenos passageiros, nem convém falar. O "Étinero" vai embora. Singra o mar com destino a Libreville (Gabão), mas ali, conscientes do perigo, as autoridades não autorizam o desembarque. O "Étinero" parte novamente. Em direção a Duala. Camarões. Também ali é rejeitado. E parte uma vez mais. A opinião geral é de que o barco tentou voltar ao seu porto de partida, Cotonou, em Benin, mas, por enquanto, ninguém o viu de novo. Porque esta lentidão? Em parte, por causa de sua velocidade fraca. Mas também, provavelmente, por temor. Efetivamente, há uma ordem internacional de prisão contra seu armador, um cidadão beninense, e contra a tripulação do barco. Existe o receio de que a tripulação tenha tentado desembarcar sua carga de crianças num porto desconhecido. E em que condições? Esta epopéia infame não é uma exceção. Ela vem chamar a atenção para um dos inumeráveis flagelos que afligem os infelizes povos da África. Como nos séculos clássicos da escravatura, a "Costa dos Escravos" não cessa de realizar seu vil trabalho. Estima-se em 200 mil as crianças vendidas assim como escravas na África Ocidental. Elas provêm dos países mais pobres (Benin, Togo e Mali) e são negociadas nos países menos pobres, sobretudo o Gabão, ou mesmo a Costa do Marfim. Estas crianças desgarradas de suas famílias são empregadas na maioria das vezes como mão-de-obra barata nas grandes plantações de cacau ou outras culturas. Alguns meninos e meninas, menos tímidos, são contratados como empregados domésticos em casas de pessoas ricas. Todos são igualmente desprezados e maltratados. Os traficantes que organizam estas coletas de pequenos braços ganham bem a vida: um menino é comprado em Benin por 100 a 200 francos franceses (R$ 29,05 a R$ 58,09). E é revendido dez vezes mais caro.

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