Crime põe Musharraf em xeque

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Por Ahmed Rashid
Atualização:

O assassinato de Benazir Bhutto cria um grande vácuo político nesse país nuclearmente armado que parece deslizar para um abismo de violência e extremismo islâmico. A pergunta sobre o que ocorrerá a seguir tem resposta quase impossível, especialmente num momento em que a própria Benazir parecia ser a única resposta. Os paquistaneses estão em choque. Muitos parecem paralisados, outros manifestam uma dor extraordinária. Milhares saem às ruas, queimando veículos e atacando delegacias de polícia, numa explosão de violência contra o governo. É quase certo que a morte de Benazir levará ao cancelamento das eleições parlamentares do dia 8. O segundo maior partido de oposição do país já anuncia um boicote, se a votação for mantida. E a imposição de medidas extraordinárias pelos militares - como um outro estado de emergência ou mesmo a lei marcial - também é quase certa. O próprio futuro político de Pervez Musharraf nunca foi tão incerto. Nas duas vezes em que foi primeira-ministra nos anos 90, Benazir saiu do cargo por destituição - acusada de corrupção e incompetência pelos militares. Mas sempre se mostrou uma gigante numa terra de pigmeus políticos e acólitos do Exército. Sua mais longa batalha não foi contra os extremistas, mas contra os militares, que jamais confiaram nela, considerando-a muito secular, mundana demais, talvez esperta demais. Benazir foi morta quando deixava um comício em Rawalpindi, a apenas três quilômetros de onde seu pai, o primeiro-ministro Zulfiqar Ali Bhutto, foi enforcado por um outro ditador militar, 30 anos atrás. A tragédia da família Bhutto - seus irmãos também foram assassinados, um envenenado e outro a tiros, e o marido dela passou sete anos na prisão - tornou-se parte da luta dos paquistaneses para criar um Estado moderno e democrático viável. Na quinta-feira, seus partidários saíram às ruas, acusando Musharraf e o Exército de terem perpetrado esse último assassinato de um membro da família Bhutto. O que é extremamente improvável, sobretudo porque na noite de quinta-feira o próprio governo estava desesperado. Benazir e seu Partido Popular do Paquistão eram os que estavam mais próximos de uma cultura política democrática e secular. O papel que ela desempenhava, tentando uma modernização desse país de 165milhões de habitantes, foi imensamente corajoso e absolutamente necessário para que o Paquistão siga na comunidade de nações civilizadas. Independentemente dos seus defeitos, ela amava o seu país e deu a vida por ele. Pelo menos um terço do eleitorado era obstinadamente leal a Benazir e seu partido. Seus partidários se opõem ferozmente ao governo militar e ao extremismo islâmico. Nas últimas semanas, Benazir vinha atacando publicamente os extremistas do Taleban - algo que Musharraf nunca ousou fazer, apesar de todas as suas bravatas e amabilidades com George W. Bush desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Com a morte dela, não há ninguém que possa assumir esse papel. O ataque - um homem armado disparou contra ela antes de se suicidar explodindo uma bomba - traz as marcas do treinamento de terroristas da Al-Qaeda que se escondem no noroeste do Paquistão. O atentado contra Benazir Bhutto deve exacerbar os problemas que o Paquistão já vinha enfrentando nos últimos meses: como encontrar um mínimo de estabilidade com um governo representativo que o Exército aceite e não faça tudo para prejudicar e como evitar a propagação do extremismo no país. Se as eleições forem canceladas será imperativo que Musharraf abandone sua sede de poder e estabeleça um governo nacional, formado por todos os partidos e todos os políticos mais influentes do país. Juntos, poderão chegar a um consenso para uma eleição dentro da lei e da ordem e, ao mesmo tempo, repelir o espectro do extremismo que vem assombrando essa terra atordoada. Mas Musharraf pode não sobreviver às repercussões da morte de Benazir. Suas ações não foram honrosas e nenhum político da oposição está disposto a sentar-se com ele. É improvável que a população aceite que ele continue na presidência. Se o tumulto e o caos político piorarem, a oposição recusar-se a cooperar com Musharraf e os EUA finalmente começarem a distanciar-se dele, então o Exército pode ser obrigado a pedir a Musharraf que renuncie. Se isso acontecer, será ainda mais necessário que o mundo apóie um governo de unidade nacional, a convocação de eleições e o retorno rápido a um regime civil e não uma outra ditadura militar. *Ahmed Rashid, jornalista paquistanês e autor de ?Taleban? e ?Jihad: The Rise of Militant Islam in Central Asia? (Jihad: A ascensão do Islã militante na Ásia Central) escreveu este artigo para ?The Washington Post?

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