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Crimeia estatizará empresas ucranianas

Controle de fronteiras e substituição de moeda também estão na lista de medidas já organizada pelo governo local e com aval do Kremlin

Por ANDREI NETTO , SIMFEROPOL e UCRÂNIA
Atualização:

O referendo ainda não aconteceu, mas já se sabe que ele não será reconhecido pela comunidade internacional. Para o governo da Crimeia, porém, não há tempo a perder. Com apoio de Moscou, tudo já vem sendo preparado para que o controle de fronteiras, a estatização de empresas públicas da Ucrânia e a substituição da moeda local pelo rublo comecem na segunda-feira, primeiro dia da anexação do território à Rússia.

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Os preparativos foram confirmados ontem pelo vice-primeiro-ministro da Crimeia, Rustam Termigaliev. Segundo ele, o Banco Central da Rússia já prepara um plano para a substituição do hryvnia, a moeda local, pelo rublo, da Rússia. O Ministério das Finanças de Moscou teria prometido um programa de troca de 3 milhões de rublos - € 60 milhões - aos 2 milhões de habitantes da península, dos quais 58% são de origem russa.

Além disso, a estatal ucraniana de energia, a Chornomornaftohaz, e também a companhia ferroviária local devem ser as primeiras empresas a serem desapropriadas por decreto. Com a Chornomornaftohaz também serão transferidos os campos de gás natural no Mar Negro, hoje explorados pela Ucrânia, e essenciais para que o país reduza a dependência energética das exportações de Moscou.

"A transferência está sendo preparada", afirmou Termigaliev, em entrevista a uma emissora de TV da Rússia, referindo-se a "uma série de bens, pertencentes ao Estado ucraniano, que estão localizados no território da Crimeia".

Além disso, milicianos russos e cossacos que defendem a anexação do território por Moscou já realizam o policiamento das "fronteiras" da república autônoma, conforme o

Estado

verificou. Homens armados e vestindo capuzes bloqueiam estradas da região e fazem uma triagem sobre a quem tem direito de ingressar na Crimeia.

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Jornalistas estrangeiros com câmeras fotográficas ou filmadoras, por exemplo, são bloqueados. Triagem semelhante também ocorre no aeroporto de Simferopol, que só recebe aviões vindos de Moscou, e na estação central de trens, onde grupos de milicianos abordam e revistam passageiros de forma aleatória.

Os preparativos para a absorção do território pela Rússia de Vladimir Putin contrastam com a ausência de preparativos visíveis para o referendo. No centro de Simferopol, são raros os pontos de propaganda montados pelos partidários da secessão da Ucrânia. Já os militantes da manutenção do status atual da Crimeia sumiram das ruas, após o desaparecimento de líderes do movimento nos últimos dias.

Em resposta às intenções de Moscou, o presidente interino da Ucrânia, Oleksandr Turchynov, descartou a hipótese de entrar em conflito armado, preferindo se concentrar no reforço da nova linha divisória com a Rússia. "Na fronteira da Ucrânia estão concentradas importantes unidades blindadas", disse o presidente.

Jogo duro.

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O G-7, grupo de sete potências globais - Estados Unidos, Japão, Canadá, Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália - anunciou ontem, sem surpresas, que não reconhecerá a anexação da Crimeia pela Rússia. "Por todas as razões, não reconheceremos o resultado", afirmou o grupo, em comunicado. O G-7 ameaçou ainda tomar ações concretas contra Moscou. "Se a Rússia continuar suas ações, adotaremos uma ação futura, individualmente ou coletivamente", diz o texto.

A União Europeia chegou ontem a um acordo sobre suas sanções contra a Rússia, que incluem restrições a viagens e congelamentos de bens dos responsáveis pela violação da soberania da Ucrânia. O texto descreve em detalhes as medidas punitivas caso a Rússia não recue e inicie um diálogo com Kiev. Se aprovadas pelos chanceleres da UE, na semana que vem, serão as primeiras sanções impostas pelo bloco contra a Rússia desde a Guerra Fria.

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