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Crise entre Israel e palestinos ocorre em momento mais instável do Oriente Médio

Para se ter uma dimensão da crise, basta olhar ao redor das fronteiras de Israel e dos territórios palestinos, aponta análise de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen.

Por Jeremy Bowen
Atualização:

No fim de semana passado, parecia estar perdendo ímpeto a mais recente onda de violência entre Israel e o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza. Ambos os lados trocavam acusações sobre quem começara o conflito e, na segunda-feira, discutia-se um cessar-fogo mediado pelo Egito. Mas novas hostilidades - e a morte do líder militar palestino Ahmed Jabari, na quarta-feira - deram aos recentes desdobramentos contornos de uma séria crise internacional. Os conflitos continuaram neste sábado, após Israel bombardear 200 alvos em Gaza durante a madrugada - inclusive a casa do premiê palestino Ismail Haniya - e ser atingido por cerca de 60 foguetes. E a convocação de reservistas do Exército israelense já levanta temores de uma possível ação terrestre no território palestino. A crise é especialmente perigosa porque o Oriente Médio está em seu momento mais turbulento e instável desde os anos 1950. Antigas certezas e antigos protagonistas sumiram. E, para se ter uma dimensão da crise, basta olhar ao redor das fronteiras de Israel e dos territórios palestinos. A Síria está mergulhada no que muitos já chamam de guerra civil. O Líbano tem tantos laços com a Síria que não tem como evitar seu envolvimento. Ecos da Primavera Árabe Na Jordânia, protestos antigoverno ecoam movimentos ocorridos na Tunísia, no Egito, na Líbia e em outros países - as pessoas estão pedindo a queda do regime. E o Egito não tem mais o presidente Hosni Mubarak, o homem a que americanos e israelenses recorriam em momentos como o atual, para manter o status quo. Mubarak está preso, acusado de ter reprimido as manifestações que resultaram em sua queda, e foi substituído por um governo eleito democraticamente liderado pela Irmandade Muçulmana, que disse que o Egito "não deixará Gaza sozinha". A Irmandade Muçulmana, que difundiu a ideia de um islã político, inspirou a própria criação do Hamas - o qual recebeu apoio egípcio, ainda que, pelo menos por enquanto, apenas no campo da retórica. E a Turquia está seguindo o Egito. Nos bastidores, ambos os países vão pressionar por um cessar-fogo entre Israel e Gaza, mas seu apoio dará, se necessário, força para que o Hamas se mantenha. As mudanças convulsivas no mundo árabe nos últimos dois anos haviam roubado as manchetes do conflito israelo-palestino. Mas este nunca acabou - na verdade, se aprofundou, enquanto grande parte do mundo estava distraída com a Primavera Árabe. Uma crise violenta, ou mesmo uma guerra, é o que a política do Oriente Médio tem de mais próximo a uma certeza. Israel já autorizou a mobilização de 75 mil reservistas; o Hamas, por sua vez, tenta golpear o país lançando foguetes em direção a Tel Aviv e ao lado israelense de Jerusalém. Até agora, os acontecimentos não têm a dimensão da guerra entre Hamas e Israel ocorrida no Ano-Novo de 2009. Mas se os pedidos do Ocidente para que os dois lados abdiquem da violência continuarem a ser ignorados, o resultado pode ser semelhante ao de três anos atrás. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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