Crise fará novo presidente adiar promessas de campanha

Assessores de Obama já admitem mudar cronograma de execução de parte do programa eleitoral democrata

PUBLICIDADE

Por Peter Baker e Washington
Atualização:

Diante da pior crise financeira em décadas, o presidente eleito, Barack Obama, e seus aliados democratas no Congresso estão dispostos a retardar o cumprimento de algumas promessas feitas durante a campanha para se concentrarem em medidas para que revertam a desaceleração econômica. Embora Obama não tenha esclarecido quais as prioridades que serão adiadas, assessores afirmam que podem ficar para mais tarde a renegociação do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), a reforma das leis de imigração, as restrições às emissões de carbono, a elevação de impostos da classe mais abastada e a permissão para que lésbicas e gays sirvam o Exército. Outras promessas poderão ser cumpridas em etapas, como a expansão da cobertura médica e a promoção da independência energética, que seriam incluídas no pacote de recuperação econômica que está sendo desenvolvido. As prioridades estão sendo determinadas à medida que a posse se aproxima, dando uma perspectiva do que será a nova presidência, bem mais ligada aos problemas que Obama está herdando. Cercado por veteranos do governo Clinton, ele está determinado a evitar os erros da última transição democrata, há 16 anos, quando assuntos secundários e mudanças apressadas enfraqueceram o novo presidente. A desordem econômica dá a Obama uma oportunidade, mas também um desafio. Embora ele tenha de deixar de lado algumas das metas propostas, a magnitude dos problemas que o esperam é tão grande que ele tem uma razão imediata para retardar ou reduzir algumas iniciativas. E, à medida que monta seu pacote econômico, pode atacar algumas das prioridades mais urgentes em nome da retomada do crescimento e para preparar o país para o futuro. "Desejo ser realista", disse Obama em entrevista levada ao programa This Week, da rede ABC. "Nem tudo o que foi falado na campanha será possível realizar com a velocidade esperada." De acordo com seus assessores, Obama ainda pretende cumprir integralmente seu programa eleitoral até o fim do ano. "Nossa intenção é respeitar todos os compromissos feitos", disse David Axelrod, chefe de sua campanha. "Mas, obviamente, precisaremos estabelecer prioridades". "No momento", disse Rahm Emanuel, futuro chefe de gabinete, "em termos de política interna só uma coisa importa: empregos". O futuro presidente também prometeu uma nova política de imigração, mas diversos aliados dizem que ela não deve sair este ano. Segundo Janet Murguia, presidente do Conselho Nacional de La Raza, Rahm Emanuel teria dito a ela que esse assunto precisa ser resolvido, mas sem compromisso com prazos. Em temas como imigração e mudança climática, Obama pode adotar de início algumas medidas exíguas. Ele quer que no pacote econômico se reserve uma verba para ser aplicada com o fim de dobrar os combustíveis alternativos nos próximos três anos. Contudo, um sistema de comercialização de créditos de excedentes de carbono (o chamado sistema "cap-and-trade") não está entre as prioridades. TOLERÂNCIA O presidente eleito não parece disposto a acabar com o Nafta, nem tem pressa para levar adiante um plano bastante controvertido para tornar mais fácil para os trabalhadores se organizarem em sindicatos. Bill Samuel, diretor legislativo da AFL-CIO, maior central sindical dos EUA, disse que os líderes sindicais estão mais concentrados no pacote econômico, que vai destinar centenas de bilhões de dólares à criação de empregos. Grande parte dos fundos será usada em obras de infraestrutura, construção de pontes e estradas, o que beneficiaria seus membros. "Se demorar um pouco mais para que outras prioridades do sindicato sejam atendidas, tudo bem", disse Samuel. "Você não pode fazer tudo na mesma semana". EM SEGUNDO PLANO Nafta: novos acordos da Área de Livre Comércio da América do Norte terão de esperar Leis: serão congeladas reformas na área de imigração e meio ambiente Exército: igualdade para gays e lésbicas não será prioridade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.