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Crise faz a Revolução da Rosa murchar

Por Gilles Lapouge
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Hoje, as revoluções de flores ou frutas murcham muito rápido. A dos Cravos, em 1974, não envelheceu. Mas a Revolução Laranja, na Ucrânia, mais recente, acabou numa paralisia política dramática. Na Geórgia, há 15 dias, a Revolução da Rosa, que em 2003 derrubou o governo pró-russo de Eduard Shevarnadze (ex-chanceler de Mikhail Gorbachev) é atacada por milhares de descontentes. A pequena república, que se separou da União Soviética em 1991, não tem mais do que 6 milhões de habitantes e produz frutas e legumes magníficos. É a terra onde nasceu Stalin, que ali iniciou seus estudos de seminarista, interrompidos pela revolução bolchevique. O jovem presidente Mikhail Saakashvili, que forçou as portas do Parlamento de Tbilisi quatro anos atrás, liderando uma multidão, precisou posicionar sua polícia na mesma Praça do Parlamento que foi seu local de glória. Manifestantes que instalaram barracas no centro da cidade foram atacados com gás lacrimogêneo, canhões de água e cassetetes. A prova de força começou em setembro, quando o ex-ministro da Defesa Iraki Okrouachvili acusou o presidente de corrupção e de ter mandado matar um empresário. Exilado na Alemanha, o ex-ministro alimenta a revolta. O presidente tornou a situação ainda mais dramática, dando a ela uma dimensão internacional. Acusou os russos de atiçarem o fogo. A Rússia, desde os anos 90, sustenta os separatistas georgianos nas províncias de Ossétia do Sul e Abkházia. "Responsáveis dos serviços especiais russos estão envolvidos", disse. As acusações são plausíveis. Não correspondem apenas à nova agressividade diplomática de Vladimir Putin, mas também é certo que o presidente georgiano nunca escondeu seu desejo de aproximar-se dos EUA e Europa. Putin não gosta disso. Como na Ucrânia, ele faz tudo para recuperar a influência nos antigos países soviéticos, que começam a rumar para o Ocidente. O entusiasmo dos revolucionários da pequena Geórgia transformou-se em decepção e, depois, em furor. A corrupção contribuiu para isso. Mas, sobretudo, as maravilhas prometidas por Saakashvili, se o país se voltasse para o Ocidente, não apareceram. O nível de vida também não melhorou, o que permitiu aos amigos de Moscou denunciarem a bazófia da ilusão ocidental, especialmente a americana. *Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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