Crise indiana sobre corrupção dá sinais de impacto político

PUBLICIDADE

Por ANNIE BANERJI E ALISTAIR SCRUTTON
Atualização:

Pelo menos 10 mil pessoas se juntaram neste sábado na Índia para apoiar um ativista anticorrupção que colocou grande parte do país contra o governo devido à sua greve de fome, em meio a sinais do primeiro-ministro Manmohan Singh para encerrar o impasse. Anna Hazare, um ativista gandhiano, está em seu quarto dia de jejum em um local público na capital, uma greve de fome que ele diz que irá continuar até o governo aprovar uma legislação mais rígida. No local onde o ativista faz o protesto, pessoas distribuem comida para uma multidão que inclui muitos trabalhadores da classe média e jovens estudantes. Várias pessoas vestidas como Gandhi se juntaram aos manifestantes. "Acreditávamos que tínhamos conquistado a independência, mas não tínhamos. A mesma corrupção, o mesmo saque, o mesmo terror estão aí," afirmou Hazare à multidão, acrescentando que a Índia precisa de reformas eleitorais e uma nova lei contra a corrupção. Hazare deixou a prisão na sexta-feira, sendo recebido por um grande público e uma intensa cobertura da imprensa. Ele foi brevemente preso na terça-feira, mas depois se recusou a sair da prisão até que o governo permitisse que ele continuasse a greve de fome pública por 15 dias. Houve sinais de que o governo, que tem seu próprio projeto de lei anticorrupção no Parlamento, esteja buscando um acordo em vez de a postura linha-dura que adotou no começo da semana. O Congresso publicou alertas em jornais neste sábado pedindo adendos públicos à legislação. "Estamos abertos à discussão, diálogo," disse Singh a repórteres neste sábado. "Há muito espaço para ceder." Um dos principais partidários de Hazare, o advogado Prashant Bhushan, disse ao jornal The Indian Express que "se o governo nos convencer sobre esse ponto de vista, aceitaremos." INCITANDO A CLASSE MÉDIA Vários escândalos, incluindo um envolvendo subornos nas telecomunicações e que pode ter custado ao governo até 39 bilhões de dólares, levaram Hazare a exigir medidas contra a corrupção. Mas o projeto do governo de criar um ombudsman para o tema foi criticado como sendo muito ameno. A fraca oposição política significaria que o governo poderia sobreviver à crise, mas isso pode piorar ainda mais a perspectiva de reformas econômicas e minar o Partido do Congresso eleitoralmente. Alguns comentaristas afirmaram que o movimento pró-Hazare pode enfraquecer, uma vez que ele não está mais na prisão. Vestido com seu tradicional chapéu branco, kurta e óculos, Hazare evocou as memórias do líder da independência Mahatma Gandhi, que é reverenciado como pai da nação. Uma equipe médica está de prontidão para monitorar a saúde de Hazare. Uma piora significativa de seu estado pode agravar a crise para o governo, mas os partidários do ativista dizem que ele é muito resistente. Os protestos, inflamados pelas redes sociais, não apenas abalaram o Partido do Congresso, mas também impactaram na classe política como um todo. Houve mais de 500 manifestações separadas em toda a Índia na sexta-feira, informou a imprensa local. (Reportagem adicional de Arup Roychoudhury e Rajesh Kumar Singh)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.