Primeiro-ministro espanhol fala em suspender autonomia da Catalunha

Mariano Rajoy afirma que pode acionar o artigo 155 da Constituição se os dirigentes da região insistirem em declarar a independência de forma unilateral; milhares protestam em razão da crise

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Atualização:
Grupo Hablemos/Parlem defende o diálogo entre os políticos de Madri e Barcelona. Foto: Sergio Perez/Reuters

MADRI e BARCELONA – O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, afirmou ao jornal El País que não descarta suspender a autonomia da Catalunha se os dirigentes da região insistirem na ameaça de declarar a independência de forma unilateral - o que está previsto para ocorrer na terça-feira. A entrevista do premiê ao jornal espanhol será publicada neste domingo.

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“Não descarto absolutamente nada”, respondeu Rajoy ao ser questionado sobre a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola, que permite a suspensão da autonomia.

Neste sábado, 7, milhares de pessoas participam de manifestações em Madri e Barcelona em resposta à crise na Catalunha. Alguns grupos pedem a unidade da Espanha, enquanto outros cobram diálogo entre os governos.

Na Praça de Colón, em Madri, uma multidão com bandeiras espanholas carrega faixas com frases como “Catalunha é Espanha, não nos enganem”, “Não se dialoga com golpistas” e “Prisão para Puigdemont” – o presidente da comunidade autônoma da Catalunha.

Em Madri, manifestação com bandeiras na Praça Colón defende a unidade espanhola. Foto: Javier Barbancho/Reuters

A manifestação foi convocada pela Fundação DENAES (Defesa da Nação Espanhola), cujo porta-voz, Iván Espinosa, afirmou que “os espanhóis vêm cedendo ao nacionalismo há 40 anos”. “O patriotismo parecia esquecido, parecia uma coisa de extremistas, de outra época. O nosso não é um patriotismo anticatalão, e sim em defesa e reação a um movimento excludente”, disse.

“Estou aqui porque não quero que construam um muro de Berlim que me impeça de ir aonde tenho meus mortos e minha família”, disse Octavi Puig, de 62 anos, um aposentado catalão que mora em Madri.

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Próximo dali, em frente à prefeitura de Madri, se manifestam outras milhares de pessoas convocadas pelo recém-nascido movimento cívico Hablemos (Parlem, em catalão), que defende o diálogo. Os participantes vestem branco, sem bandeiras, aplaudindo e levantando as mãos. “Aumentou muito a tensão e a violência e só piora. Isso está gerando muito medo, é perigoso”, lamentou Yurena Díaz, uma médica de 36 anos.

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Em Barcelona, na Praça Sant Jaume – onde ficam a prefeitura e o palácio do governo autônomo –, centenas de pessoas convocadas pelao Hablemos/Parlem também se reúnem em defesa de um acordo bilateral. “Não queremos bandeiras, não queremos fraturas, queremos que os políticos se sentem para conversar”, explicou Ana Chueco, empresária catalã de 51 anos. 

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Tensão às vésperas de possível declaração de independência. As manifestações ocorrem em meio à pressão para que Puidgemont abandone a ideia de declarar unilateralmente a independência do território. Empresas emblemáticas, como CaixaBank, Gas Natural o Banco Sabadell, devem deixar a Catalunha se o plano do presidente se confirmar.

A possibilidade de crise econômica aumenta a inquietude da sociedade catalã, dividida pela aposta independentista cuja escalada causa à Espanha sua pior crise política na era democrática. O governo de Mariano Rajoy se nega a aceitar o diálogo ou uma mediação, alegando o representante catalão contrariou a legalidade ao organizar o referendo de independência - que acabou sendo reprimido pela polícia espanhola. 

Puigdemont não dá sinais de abandonar seu objetivo. Ele anunciou que irá à Câmara regional, onde a maioria dos parlamentares é separatista, na tarde da próxima terça-feira, 10, para “comentar a situação política”. Ainda não há confirmação de que o Parlamento pretende declarar a independência. O resultado oficial do referendo, divulgado pelo governo, foi de 90,18% dos votos favoráveis à independência, com participação de 43,03% dos eleitores do território. 

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Marcha pela unidade.

Uma imensa marcha pela unidade da Espanha está prevista para ocorrer neste domingo em Barcelona, contra as aspirações de independência. O escritor peruano e prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa deve ser uma das personalidades presentes. / AFP 

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