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Cristãos coptas, vítimas do Estado Islâmico

Prevendo que será expulso do Iraque e da Síria o grupo estuda se estabelecer no Sinai

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Por Gilles Lapouge , Correspondente e Paris
Atualização:

Ao verter o sangue dos cristãos em duas igrejas coptas do Egito (em Tanta, 29 mortos, e Alexandria, 17 mortos), o Estado Islâmico (EI) atingiu, na verdade, muitos alvos.

Ele certamente enlutou a comunidade cristã do Egito, os coptas, uma das mais veneráveis da história, e ao mesmo tempo visou a toda a comunidade cristã, o que explica a dor do papa Francisco e seu próximo deslocamento ao Egito.

A primeira bomba, em Tanta, destruiu o interior da Igreja de São Jorge, disse o Ministério da Saúde do Egito Foto: REUTERS/Fawzy Abdel Hamied

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Mas essa não é a única razão dessas barbáries. Com o ataque aos coptas, o EI pretende atingir o Egito todo e seu presidente, o general Abdul Fatah al-Sissi. Num prazo mais longo, o EI prepara provavelmente sua mudança de domicílio. Escorraçado como será em breve de seus feudos no Iraque e na Síria (Mossul e Raqqa) o grupo extremista gostaria de se estabelecer no Egito. Não em Alexandria ou no Cairo, é claro, mas na Península do Sinai, onde bandos terroristas assassinam e matam há muitos anos.

Eis aí porque o Egito e o governo do general Sissi encontram-se na mira dos bandos islâmicos. O EI compreendeu que um atentado contra as igrejas coptas do Cairo ou do delta do Nilo é bem mais eficaz, como propaganda, do que os assassinatos de alguns recrutas ou soldados egípcios no Sinai. Um lucro suplementar na ideia dos “loucos de Deus”: com a agressão aos cristãos, o governo egípcio revela sua incapacidade de proteger as minorias do país.

Os atentados colocam o general Sissi em posição delicada: se ele se omite, mostra sua impotência diante do EI. Mas se protege as comunidades coptas (há 10 milhões de coptas no Egito), ele se confessa cúmplice dos “infiéis”, um traidor, em suma, do Islã.

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Essa é a razão pela qual os ataques aos coptas recrudesceram: em dezembro, um atentado suicida na igreja de São Pedro e São Paulo, no Cairo, deixou 28 mortos. Em fevereiro, assassinatos de coptas na cidade de Arish, capital do Sinai do Norte, fizeram centenas de coptas do Sinai se refugiarem a oeste do Canal de Suez.

Ressurge assim, com a intensificação das lutas contra o general Sissi e o assassinato de coptas, um dos “fundamentos” do Estado Islâmico: erradicar todos os deuses, todas as confissões religiosas que existem exceto a islâmica. O objetivo é claro: apequenar o cristianismo egípcio.

A mesma ira destrutiva se abate sobre as outras religiões – ou filosofias – como, por exemplo, fez o Taleban com os Budas de Bamyan (Afeganistão) ou o próprio EI em Palmyra (Síria). É um delírio niilista. Eles querem apagar não só os crentes e os monumentos não muçulmanos, mas também as memórias. E afora as tropas de Sissi, quem mais pode proteger os coptas do Egito? Durante muito tempo, foi a França. Mas ela se retirou. Em seu lugar, a Rússia de Vladimir Putin se ofereceu para carregar o fardo.

Enfim, resta o objetivo estratégico do EI: após o Iraque e a Síria, meter a mão no “elo frágil” do Egito, o Sinai. O último vídeo do EI se intitulava “Luz da sharia”, e anunciava, nas entrelinhas, esse próximo desdobramento. O vídeo foi filmado no Sinai e mostra militantes islâmicos, bem instalados, reorganizando a vida cotidiana do Sinai, queimando toneladas de cigarros e de maconha, e distribuindo uniformes do EI à população local. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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