Cristina amplia o bolsa-família antes de eleição

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Por Rodrigo Cavalheiro , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
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A presidente argentina, Cristina Kirchner, aumentou ontem em 30% a bolsa dada pelo governo por filho a famílias que não têm emprego. A quatro meses da eleição que definirá seu substituto, ela também afirmou que enviará ao Congresso, no qual tem maioria, um projeto para forçar um reajuste bianual desse subsídio, pelo mesmo índice aplicado aos aposentados, grupo que já têm aumento duas vezes por ano. O mesmo padrão será estendido às grávidas desempregadas, que também já têm direito à bolsa. Os anúncios foram feitos em cadeia nacional, a 24.ª convocada no ano.A oposição criticava os subsídios por terem sido criados por decreto e pedia que houvesse um trâmite normal pelo Parlamento, para que as políticas se tornassem de Estado e não bandeira eleitoral do kirchnerismo. Em seu discurso na Casa Rosada, Cristina afirmou que quem insinuava que os benefícios não eram fruto de lei "não tinha estudado". "O fato de eu enviar esse projeto de lei não quer dizer que já não exista lei para esses programas. O que faremos é obrigar o reajuste duas vezes por ano. É para que ninguém possa liquidar os benefícios deixando de reajustá-los", afirmou, referindo-se ao próximo governo, que começará em 11 de dezembro. O país escolhe o novo presidente em 25 de outubro, com possível segundo turno em 24 de novembro. "Pensar que o anúncio não tem nada a ver com o calendário eleitoral é ingênuo. Mas pensar que é só isso seria injusto com esse governo, que se preocupou com esse público por muito tempo. É uma mistura das duas coisas. Há um elemento de oportunismo, mas não total", disse ao Estado Atilio Baron, cientista político da Universidade de Buenos Aires. Prever o efeito da ampliação dos benefícios sobre o voto dos argentinos é difícil, segundo o especialista, mas ele não acredita em um impacto profundo. "Não é um programa totalmente novo, então, acho que não há muita gente que vá mudar o voto por causa disso." Com o reajuste anunciado ontem, o valor das bolsas por filho e por gravidez passará de 644 pesos (R$ 222) para 837 pesos (R$ 289) por mês. A presidente salientou que mais de 1 milhão de concessões por filho foram revogadas por falta de contraprestações: manter a criança na escola e as vacinas em dia.O trabalhador médio argentino recebe um reajuste anual para compensar a inflação - que é de 15%, segundo o governo, e de 25%, segundo consultorias. A presidente já enfrentou esse ano duas greves gerais de 24 horas comandadas por sindicatos ligados ao setor de transporte e apoiadas por outros grupos opositores de trabalhadores. Eles querem reajustes superiores a 30%, mas o governo insiste em impor um teto de 27%. Eles exigem ainda o fim do imposto sobre salários que atinge quem ganha mais de 15 mil pesos (R$ 5.191) e pode chegar a 35% para os maiores rendimentos.

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