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Cristina indica que não passará faixa a Macri

Disputa entre presidente eleito argentino e a atual líder torna-se principal tema da posse marcada para quinta-feira

Por Rodrigo Cavalheiro - CORRESPONDENTE e CAVALHEIRO
Atualização:

O que começou como a única certeza na transição argentina, a presença do presidente eleito argentino, Mauricio Macri, e da que líder sai, Cristina Kirchner, na posse marcada para quinta-feira, está sob ameaça.

No sábado, após uma semana de controvérsia sobre o local do ato, o político conservador disse ter informado por telefone a Cristina que a passagem da faixa e do bastão presidencial ocorreria às 13h30 na Casa Rosada, depois do juramento feito no Congresso. Ele indicou que, se ela insistisse em fazer toda a cerimônia no Parlamento, um representante da Suprema Corte a substituiria. Ontem, a presidente deu por Twitter sua versão para o telefonema entre os dois e sustentou que Macri gritou com ela. 

Ex-presidente argentina Cristina Kirchner Foto: Marcos Brindicci/Reuters

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“O presidente eleito começou com um tom elevado de voz a exigir que eu deveria entregar o bastão e a faixa na Casa Rosada porque era ‘sua cerimônia’”, escreveu Cristina, que descreveu o opositor como uma pessoa “totalmente distinta da que aparece na imprensa” e com quem ela havia conversado. “Tive de lembrá-lo que ele era um homem e eu uma mulher, e eu não merecia que me tratasse daquela forma”, acrescentou Cristina.

Macri havia se mostrado flexível em temas mais complexos em relação ao kirchnerismo e pregado o fim do revanchismo, mas encarou o caso como uma ameaça a sua autoridade no começo de mandato. Num momento em que busca investimentos no exterior, ser visto como um líder fraco não ajudaria. “Se a presidente não fizer a entrega dos objetos, isso será feito pela Corte Suprema”, afirmou Macri sábado no programa de TV de Mirtha Legrand, apresentadora preferida da alta sociedade argentina, que recebe convidados para jantar vestida para uma festa de gala. Se Cristina não comparecer, a passagem deve ser feita por Ricardo Lorenzetti, presidente da Corte Suprema. 

“Não é que eu queira assim. Quero um país normal, que respeita a história e as tradições”, afirmou. Ele citou o artigo 114 do cerimonial da presidência, segundo o qual os objetos são entregues na Casa Rosada. 

A passagem da faixa presidencial e do bastão simboliza a normalidade institucional. Cristina quer que o momento registrado por fotógrafos e cinegrafistas ocorra no Congresso. Nesse lugar, ela teria o apoio nas galerias superiores de militantes kirchneristas que organizam uma festa de despedida. Macri deseja que depois de jurar no Parlamento o cenário seja a Casa Rosada, um ambiente mais fácil de controlar, diante de funcionários e chefes de Estado. A queda de braço até agora havia sido exposta por representantes dos dois lados e tratada como uma extensão pitoresca do enfrentamento em que Macri venceu o kirchnerista Daniel Scioli por 51,3% a 48,7%. 

A cerimônia passou a ocorrer inteira no Congresso em 2003, quando Néstor Kirchner recebeu o comando do senador Eduardo Duhalde, que não chegou à presidência pelo voto popular. Ele assumiu interinamente, após a sucessão de líderes que ocuparam o cargo no fim de 2001, na pior crise do país.

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Dois dias depois de vencer a eleição dia 22, Macri visitou Cristina na residência oficial, a Quinta de Olivos, na Grande Buenos Aires. Saiu decepcionado com o acesso que teria a dados, mas tranquilo quanto à presença da presidente no ato. “Ela me garantiu que estará”, afirmou quem insinuava que ela alegaria alguma indisposição para não aparecer.

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