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Cristina recebe vítimas da Amia e oposição tenta revogar pacto

Em meio à tempestade política aberta com morte de procurador, governo argentino manobra para reduzir danos

Por Ariel Palacios , Correspondente e Buenos Aires
Atualização:
Parentes de promotor morto preparam enterro após o corpo ser liberado nesta terça-feira, 27. Na foto, Sandra Nisman (D), irmã do promotor, deixa o apartamento onde ele vivia Foto: APF

BUENOS AIRES - A presidente argentina, Cristina Kirchner, reuniu-se nesta terça-feira, 27, na residência de Olivos com representantes da Associação 18J de Parentes, Sobreviventes e Amigos das Vítimas do atentado à Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia). Um dos representantes do grupo judaico, Sergio Burnstein - considerado próximo do governo Kirchner - qualificou de “um ato de valentia” a decisão da presidente de dissolver o serviço de inteligência, anunciada na noite de segunda-feira.

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Ao mesmo tempo, parlamentares da oposição se reuniram para discutir estratégias para tentar revogar no Congresso o acordo assinado em 2013 com o Irã para criar uma Comissão da Verdade para investigar o atentado contra a Amia - que, em 1994, deixou 85 mortos.

O promotor Alberto Nisman, encontrado morto em seu apartamento no dia 18, denunciava esse acordo como uma ação de acobertamento do governo argentino para que a suposta participação de iranianos no ataque fosse omitida. Em meio à crise, Cristina anunciou na segunda-feira à noite a dissolução do serviço de inteligência do país. Com isso, o próximo presidente da Argentina, que tomará posse em 10 de dezembro, herdará uma nova agência de inteligência com uma cúpula designada pelo kirchnerismo.

“Esta é uma bomba-relógio que Cristina está deixando para o próximo governo”, afirmou a deputada Margarita Stolbitzer, do partido GEN, de oposição.

Segundo o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, do partido Proposta Republicana e candidato às eleições presidenciais de outubro, Cristina - a 11 meses do fim de seu mandato - “quer condicionar o próximo presidente”. Integrantes da oposição ressaltam que Cristina pretende infiltrar no novo esquema de espionagem representantes de “La Cámpora”, denominação da juventude kirchnerista.

A presidente Cristina justificou o projeto de dissolução argumentando que ex-espiões do serviço secreto argentino estiveram armando “complôs” contra seu governo. Entre essas supostas conspirações, segundo indicou, estariam as denúncias realizadas por Nisman contra Cristina.

Milani. Analistas afirmam que o general César del Corazón de Jesús Milani é o principal fortalecido interno do governo na crise gerada pelo caso Nisman. Milani é o chefe do Exército argentino e - além de ser o militar favorito da presidente Cristina - é um especialista em inteligência militar.

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Integrantes da oposição acusaram Milani no ano passado de montar uma rede para espionar setores críticos do governo Kirchner. No ano passado a inteligência do Exército teve um aumento de 31,8% em seu orçamento.

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